É muito provável que ouvintes, leitores e leitoras, telespectadoras e telespectadores percebam forte diminuição do discurso que relativiza o valor do Campeonato Gaúcho neste 2022. O charme do Gauchão não desaparece mesmo sob ataque de quem o considera inútil ou pouco valioso. Como bem captou quem criou o nome de Gauchão raiz na RBS, o regional está na origem da grandeza dos gigantes Grêmio e Inter.
O Gauchão orgulha, por exemplo, o Guarany de Bagé, o Novo Hamburgo, o Brasil de Pelotas, o Caxias e o Juventude e todos os vice-campeões que estiveram perto da conquista. Raiz está sob a terra, é o que garante vicejar o que aparece na superfície. Se eu quisesse apelar para argumentos menos etéreos, a realidade dura da dupla Gre-Nal torna atraente o campeonato que abre a temporada.
O atual campeão foi parar na Segunda Divisão do Brasileirão. O vice-campeão não põe faixa no peito desde 2016, ano em que o rebaixamento foi o desfecho de uma gestão catastrófica. Não creio que sairá da boca de algum dirigente gremista ou colorado qualquer desmerecimento ao Gauchão. No pragmatismo que se apresenta sem sorrisos à frente de Grêmio e Inter, o Campeonato Gaúcho é título mais possível da temporada inteira.
O Brasileirão da Série A já vai abrir com os candidatos naturais, os barões do dinheiro Flamengo, Palmeiras e Atlético-MG. O gueto pode incorporar o Corinthians, que se mexe no mercado. A Copa do Brasil abre novas perspectivas, ainda que o baronato esteja presente. No torneio, São Paulo, Fluminense, Santos, Vasco da Gama, Botafogo, Cruzeiro e outros menos votados também se motivam pela possibilidade do mata-mata que reduz desigualdades.
O Inter terá a Sul-Americana, onde pode ser sério candidato, mas tem concorrência nacional e internacional muito forte. Na Série B, o Grêmio pode até ser considerado favorito ao título. Porém, a natureza da competição torna tudo muito mais difícil. Não basta jogar bom futebol. É preciso se adaptar às durezas de viagens longas, campos ruins, luz de boate e outros poréns.
No Gauchão que abre turbinado na quarta-feira que vem, há candidatos do Interior do Estado que prometem lutar com fé em busca da taça. O Juventude, que ficou na Série A do Brasileirão e fez contratações mantendo o treinador, o Caxias, com Rogério Zimmermann, e o Ypiranga podem, sim, tornar difícil a missão do Grêmio em busca da manutenção da hegemonia e do Inter tentando a retomada.
Não creio que o Brasil, que caiu para a Série C do Brasileirão, possa surpreender, muito menos outros times que não citei no texto até agora. A volta de um campeão, o Guarany de Bagé, merece aplausos de pé. O clube andou na Terceirona, voltou pelo campo à faixa nobre em que aparecerá na tela da RBSTV. O União Frederiquense se profissionalizou e tem um estádio remodelado incomparavelmente melhor do que aquele em que disputou seu último Campeonato Gaúcho.
As partidas terão enorme competitividade entre os times do Interior e não menos no confronto dos gigantes com os menores. O Gauchão 2022 representa um esforço extraordinário do Grupo RBS de colocar em canal aberto os jogos nas quartas-feiras e sábados à tarde. Horários diferentes do que sempre se viu, mas o que não é diferente em mais um ano de travessia rumo à nova normalidade depois, ou ainda durante, a tempestade do coronavírus?
Foi preciso contorcionismo para encaixar as transmissões nos horários disponíveis da grade. A boa vontade da Globo em abrir esta possibilidade e a vontade inarredável da RBS em seguir mostrando o Campeonato Gaúcho aos gaúchos renderam o acordo que vai colocar nas televisões do Rio Grande a renhida disputa pelo título deste ano.
Embora possam começar o torneio com times alternativos, Grêmio e Inter poderão encontrar nestes espaços jogadores raros das categorias de base que não teriam chance noutro contexto. Este colunista se bate muito pela convicção de que é preciso priorizar a base porque nela o clube forma o jogador à sua imagem e semelhança. O garoto sabe do que se trata o Gauchão, a rivalidade, o cotidiano desta disputa.
Nenhum jovem deve ter oportunidade entre os titulares só por ser jovem. A questão aqui não é data de nascimento e sim qualidade. Entre buscar jogador nota seis no mercado e dar chance a quem tem qualidade e foi formado no clube, basta raciocinar para concluir que melhor é a segunda alternativa.
O Inter, por exemplo, tem títulos recentes e jogadores pedindo passagem. O Grêmio vem aproveitando melhor seus recursos de casa. Se caiu, certamente não foi por aproveitar seus meninos talentosos. Antes, este aproveitamento está na raiz das conquistas anteriores do clube.
Cacique Medina quer abrir sua história no Inter com título. Alessandro Barcellos pretende colocar faixa no peito no segundo ano de sua gestão. Vagner Mancini tem um salvo-conduto muito frágil na continuidade do seu trabalho, uma vez que não conseguiu cumprir a missão para a qual foi chamado, evitar o rebaixamento no ano anterior. Romildo Bolzan precisa de um alento em seu último ano de gestão, embora claramente a tarefa principal seja o retorno à Primeira Divisão.
Não há ninguém à deriva ou a passeio no Gauchão 2022. E você verá na tela da RBSTV e na cobertura de todos os veículos do Grupo RBS o Campeonato Gaúcho mais desejado dos últimos anos.