Se o treinador do Inter decidir sair antes do fim do contrato, terá cumprido sua missão de lealdade ao amigo Marcelo Medeiros e ao clube que o projetou na carreira. Caso o faça com vitória contra o Bahia, na tela da RBS TV, neste domingo (27), seu papel estará plenamente desenvolvido diante da cena que encontrou ao chegar.
Substituía Coudet, que decidiu ir viver outra realidade na Europa. Encontrou um time que já vinha na descendente e desandou de vez na troca. Depois do coronavírus, Abel Braga voltou a tempo de dar uma certa fisionomia a uma equipe que tinha perdido as feições.
Ainda há decisões estranhas, como esta que faz parecer que joga Thiago Galhardo ou Yuri Alberto quando devem jogar juntos. Do seu jeito, porém, Abel recuperou capacidade de reação da equipe a ponto de ter reingressado no G-4, onde depende só de si para permanecer até o fim do Brasileirão e viabilizar 2021.
O técnico campeão do mundo sabe que não será o da próxima temporada. Está nas suas mãos ir até 28 de fevereiro e concluir sua obra ou sair agora. O que fizer, não estará errado. A mais madura das decisões seria finalizar o contrato no fim do segundo mês do ano, enquanto Miguel Ángel Ramírez já estaria em Porto Alegre sem ingerência no trabalho atual. Seria prova inequívoca de maturidade de todos os envolvidos.
No entanto, dê-se a Abel Braga o direito de pensar: não preciso passar por isso a esta altura da vida. Se for esta a decisão de Abel, a nova direção precisará agilizar suas medidas iniciais de gestão.
Gratidão
O Inter do ano que vem será muito diferente do que fecha 2020. Seja em peças, seja em desenho tático, a intenção é avançar sobre o que se faz hoje. Jogadores nota 6 que sobram neste elenco terão outro destino. Talentos os da base, esta é a promessa, terão chance. A presença colorada no mercado não poderá ser no atacado. Não há dinheiro. Intervenções cirúrgicas serão essenciais para o sucesso deste coquetel que a nova direção pretende. O velho e bom coquetel bem-sucedido onde se misturam jogadores experientes e jogadores emergentes. Quando bem casados, os resultados vêm. Do contrário, viram dois guetos de vestiário que não se comunicam. O último jogo de 2020 será marcante para Abel pelas razões já expostas, mas também para jogadores discutíveis que podem, caso atuem bem em Salvador, garantir presença no novo tempo pretendido pelos colorados.
Abel Braga, se for mesmo morador do Leblon outra vez na segunda-feira, de manhã, terá dado prova extrema de lealdade e coragem. Sempre foi destemido, já errou muito por soberba, seus grandes títulos vieram quando estava desafiado. Com tudo o que viveu recentemente no âmbito pessoal, esta passagem no Inter certamente lhe fez bem. Deu-lhe vitalidade, renovou o espírito e a confiança. Mesmo que o Inter perca para o Bahia, ainda assim, Abel merecerá gratidão da torcida colorada. Ele foi raro na hora mais difícil do clube no louco 2020 que termina.