Fernandinho poderia ter sido votado como homem do jogo na final contra o Lanús. Fez um golaço, deu assistências, ajudou na defesa e transitou com velocidade do meio para a frente. Não tenho dúvida de que foi sua melhor atuação no clube, contando as duas passagens. Na primeira, teve pouca chance e, quando teve, reconhece, não correspondeu. No Flamengo, pensou até em permanecer quando emprestado pelo Grêmio, mas sentiu uma nova esperança quando soube que Renato Portaluppi estava pedindo seu retorno a Porto Alegre.
Naquele momento, estabelecia-se uma relação de confiança que faz Fernandinho elogiar Renato Portaluppi a cada duas frases de uma conversa como a que tivemos antes do Bem, Amigos da última segunda-feira. Mesmo nos momentos em que Fernandinho ficou aquém e teve atuações irregulares, o treinador bancou o meia-atacante. A retribuição veio da melhor maneira: atuação luxuosa de Fernandinho no jogo mais decisivo do ano.
No ar, brinquei com Fernandinho, pedi desculpas por entender, antes do segundo jogo, que ele deveria ser substituído por Everton ou Cícero. Afinal, Galvão Bueno tinha brincado também se desculpando porque, na narração do gol de Fernandinho, ficou pedindo que ele passasse a bola a Luan, que estava ao lado no contra-ataque.
Fernandinho, 32 anos recém comemorados, não rebate crítica no microfone. Trata bem os jornalistas, me agradeceu o elogio que lhe fiz na transmissão da TV Globo na Argentina cinco minutos antes do seu gol, está em paz e tão feliz, tão feliz, que me disse com todas as letras que quer muito ficar no Grêmio. Leia agora os melhores trechos do que conversamos em São Paulo.
Você parece mais magro, mais leve...teve dieta aí?
Teve, sim, mudei toda minha alimentação, perdi dois quilos de gordura e ganhei massa magra. Carne, só sem gordura, mais aipim, muita salada e batata. Esta costela gorda fantástica aqui das churrascarias de Porto Alegre, só duas vezes por ano. O Luan é diferente. Com 24 anos, quanto mais besteira come, melhor joga. Eu já tenho que me cuidar nos meus 32 anos. Nunca me senti tão bem na vida dentro e fora do campo. A confiança do Renato anima a gente. Renato é o cara que consegue deixar um jogador no banco de reservas e o jogador não fica bravo ou insatisfeito. É fera na gestão do grupo que, aliás, é maravilhoso: somos todos amigos. Quero muito ficar, especialmente por causa deste ambiente do elenco do Grêmio.
Renato pediu sua volta do empréstimo do Flamengo. Como foi seu retorno?
É verdade, ele pediu mesmo. Voltei, conversamos, ele me disse que gostava do meu estilo de jogo, que mais cedo ou mais tarde eu teria chance de jogar e aí dependeria só de mim. Com o Renato, me adaptei a jogar pela direita, fechar e bater de esquerda. Fiz gol em Gre-Nal neste ano assim. Mas quando o Pedro Rocha saiu, Renato passou a me utilizar do lado esquerdo. Fecho o caminho do lateral-direito e, com a bola, viro atacante. É desgastante, mas necessário, estou conseguindo fazer. Além disso, o Ramiro tá jogando muito na direita, né? Passei a gostar mais de jogar pela direita no corredor. Minha inspiração é o Robben, atacante holandês do Bayern de Munique. Pega a bola no lado direito, dribla pra dentro e bate no gol.
Seu contrato termina no fim deste ano. Já começaram as tratativas de renovação?
Lá atrás, antes deste novo momento, se conversou sobre isso, sim. A proposta financeira apresentada pelo Grêmio era inferior ao meu contrato atual, a coisa não andou. Agora, só penso no Mundial. Depois, vamos voltar a falar em renovação noutros termos, né? Mas quero ficar no Grêmio, digo e repito. Já veio proposta de outros grandes do Brasil e também proposta do Exterior, mas minha prioridade é permanecer. Minha família se adaptou bem demais a Porto Alegre.
Os jogadores já estão informados sobre Pachuca e Wydad Casablanca do Marrocos?
Começamos a receber todo material do pessoal de análise de desempenho agora em Abu Dhabi. Até o fim da Libertadores e do Brasileirão, nada. Sei que a torcida já pensa em Grêmio e Real Madrid, mas toda minha concentração está na semifinal. Foi uma das coisas que aprendi na carreira. Pensar no que está mais próximo, não pular a casinha. Jogador nosso que entrar na semifinal do Mundial desconcentrado ou pensando lá adiante vai acabar prejudicando o time e não alcançando o objetivo. Não tem como jogar contra o Real se não passar pela semi. Já vivi isso no Atlético-MG, fomos eliminados pelo Raja Casablanca, rival do time que atualmente representa o Marrocos. Depois de passar, até posso começar a pensar em ir pra dentro do Sérgio Ramos (risos). Antes, não.