O motivo da demora na definição do pacote de gastos é fácil de identificar e difícil de solucionar: ninguém no governo aceita redução de orçamento. O que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tenta demonstrar há várias reuniões é que o descumprimento do limite de despesas imposto em uma lei proposta pelo próprio governo Lula irá impor dificuldades ainda maiores logo adiante.
A pressa para o anúncio, aliás, vem apenas da área econômica, a única preocupada com a sustentabilidade do arcabouço fiscal. Se dependesse de Haddad e sua equipe, a definição teria ocorrido ainda na semana passada. Qualquer medida que signifique redução do orçamento público, no entanto, é criticada internamente. Além de ministros e colegas de partido, Haddad tem dificuldade de convencer o presidente Lula — que amplia as desconfianças do mercado a cada nova entrevista.
Desde o início do governo, Haddad tomou uma série de medidas para aumentar a arrecadação. Diminuiu isenções tributárias, retomou cobrança de impostos, regulamentou atividades econômicas. As iniciativas ampliaram o volume de recursos nos cofres da União, mas não foram suficientes para equilibrar as contas.
Com o resultado da inflação acima da meta divulgado nesta sexta-feira (8), a previsão de novos aumentos na Selic e a instabilidade na política externa, o ministro terá mais evidências a apresentar aos colegas de Esplanada nas próximas reuniões. Mas quem acredita nos números?