O evento "Democracia Inabalada", em alusão aos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023, ficou restrito a lideranças da esquerda e poucas autoridades de centro e de direita. Convocada pelo Planalto e pelo Congresso, a cerimônia foi deixada de lado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e pela imensa maioria dos parlamentares do Centrão e de outros partidos de direita. Entre os governadores, Eduardo Leite (PSDB) foi um dos poucos fora do espectro da esquerda a aceitar o convite.
Lira disse que não poderia participar do ato em razão de problemas de saúde na família. Durante o evento, parlamentares comentavam que a justificativa era uma forma de esconder sua indisposição em participar do ato. Como pano de fundo está mais uma queda de braço com o governo, que deverá ficar mais evidente na volta do recesso, em fevereiro.
A decisão dos parlamentares não alinhados ao governo em boicotar o evento é legítima. De fato, o ato acabou por reunir representantes da sociedade civil, de sindicatos e outras entidades ligadas à esquerda.
Mas, como presidente de um dos poderes da República ameaçados pelas investidas por golpe, Lira não tinha o mesmo direito. A decisão de não ir ao evento deixa a impressão de que a disputa do momento por espaço no governo está acima da defesa da democracia.