Houve um tempo em que o "toma lá, dá cá" em Brasília ocorria nos bastidores, com alguma discrição. Nos últimos anos, as negociações por cargos ou pela ampliação de emendas parlamentares em troca de apoio no Congresso passou a ser feita à luz do dia. É neste cenário que o presidente Lula já negocia junto a lideranças do bloco o loteamento de outros espaços do governo — uma exigência clara para a aprovação de projetos prioritários do Planalto.
Depois de três semanas de obstrução de pauta, a Câmara aprovou por ampla maioria, na quarta-feira (25), um projeto de lei do governo que prevê a taxação de offshores e dos fundos exclusivos, os chamados "super-ricos". A votação ocorreu horas após Lula demitir a servidora de carreira Rita Serrano para acomodar na presidência da Caixa o economista Carlos Antônio Vieira Fernandes — aliado do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
As discussões agora se concentram na substituição das 12 vice-presidências do banco, que são disputadas por ao menos três siglas do centrão. Envolvida em políticas públicas e com forte componente social, a Caixa é cobiçada também pela capilaridade que possui no país. Em algumas ocasiões, indicar aliados para a cúpula do banco pode prover mais poder político do que assumir determinados ministérios.
Antes de viabilizar o avanço da pauta no Congresso, Lula também precisará conciliar disputas em torno do comando da Fundação Nacional da Saúde (Funasa), que na última reforma ministerial foi prometida ao Republicanos.
De olho no relógio, o presidente teve paciência ao longo do ano para ceder espaço ao centrão à medida em que tinha provas de retorno das promessas de apoio.
A menos de dois meses do encerramento dos trabalhos legislativos no ano, contudo, o petista precisará acelerar as negociações se quiser avançar nas prioridades do governo, incluindo projetos indispensáveis para equilibrar o caixa do Tesouro que dependem de apoio do Congresso.