Embora ainda seja muito preliminar, o acordo entre Brasil e Argentina para uso do usar gás de xisto da reserva de Vaca Muerta, na Argentina, reduziu a possibilidade de construção de um gasoduto entre Uruguaiana e Porto Alegre.
As chances já não eram grandes, dado o custo da construção, estimado em cerca de US$ 3,7 bilhões (cerca de R$ 21 bilhões hoje). Diminuíram com a discussão mais concreta sobre a utilização de dutos que já ligam a Argentina à Bolívia.
Caso a negociação de fato evolua, a estrutura do gasoduto Bolívia-Brasil poderia ser ocupada por gás de xisto argentino. Seria uma condição para que o custo seja competitivo. O futuro do gesto entre os ministros da Economia da Argentina, Luis "Toto" Caputo, e de Minas e Energia do Brasil, Alexandre Silveira, depende muito do interesse da iniciativa privada.
Ainda há muitos obstáculos no caminho do gás argentino até o Brasil. O primeiro trecho, entre a província de Neuquén, no norte da Patagônia Argentina, e a grande Buenos Aires, já foi inaugurado.
Daí em diante, o futuro da conexão é um desafio. O governo de Javier Milei não quer investir nem mais um centavo - a obra ajudou a complicar o já pesado endividamento argentino. Houve ensaio de financiamento via BNDES, mas o banco federal tem sido cauteloso sobre essa possibilidade.
Na iniciativa privada, é difícil encontrar quem se disponha a investir US$ 3,7 bilhões em um equipamento entre dois países instáveis. E as fontes de financiamento também encolheram, com boa parte do sistema financeiro focado em projetos de transição energética. Além de ser material fóssil, não renovável, a extração de óleo e gás de xisto é ainda mais polêmica do que a em alto-mar.
O que é gás de xisto
Descoberto nos anos 2000, shale oil e shale gas foram responsáveis por transformar os Estados Unidos, que até então eram dependentes de importações, em maior país exportador de petróleo. No Brasil, costumam ser chamados de óleo de xisto e gás de xisto, embora técnicos recomendem o termo "folhelho", mais preciso.
Esse tipo de formação decorre da deposição de lama em camadas. Por ter alto teor de matéria orgânica, facilita o acúmulo de hidrocarbonetos (óleo e gás). Como não é uma rocha dura, é explorado por um sistema chamado de fracking ou fratura hidráulica.
O sistema é considerado prejudicial ao ambiente, por envolver a injeção, sob alta pressão, de água, areia ou material equivalente) e produtos químicos no solo.