Faz tempo que a coluna ouve, de especialistas em clima e Amazônia, que o crime organizado se instalou na floresta.
No ano passado, o climatologista Carlos Nobre afirmou que "mais de 90% das atividades na Amazônia nos últimos quatro anos são ilegais".
Desmontar essas estruturas é essencial para salvar a floresta. E segundo o diretor do Centro de Empreendedorismo da Amazônia (CEA), Beto Veríssimo, só será possível com geração de emprego e renda voltados à preservação.
Segundo Veríssimo, é preciso enfrentar as causas que facilitaram a instalação do crime organizado na região. Ele lembra que a região tem perfil demográfico diferente do resto do país: tem população mais jovem.
— O Brasil perdeu o bônus demográfico, mas a Amazônia ainda tem. O auge é em 2030 — projeta.
Por um lado, é uma esperança de maior potencial de crescimento econômico. Mas a região tem o pior desempenho econômico do Brasil, o que significa o desmatamento está ocorrendo sem gerar riqueza. Assim, o bônus vira ônus, diz Veríssimo:
— Quem pode sair, sai. Quem tem baixa escolaridade acaba vítima do tráfico de drogas. A Amazônia tem um exército de jovens capturado pelo crime. É preciso fazer mais esforço para aproveitar os jovens da Amazônia, criando empregos para gerar prosperidade.
É crucial resolver a questão fundiária, diz, mas regularizando a posse de quem merece, não para grileiros que fazem da invasão de terras públicas um negócio. Um terço das áreas tem situação fundiária indefinida, o equivalente a 1,4 milhão de km², algo como Espanha, França e Alemanha juntas.
— Essa indefinição gera grande corrida especulativa, entremeada com o crime organizado, que se instalou fortemente na região. Isso é um obstáculo ao crescimento, porque inibe o investimento. A ideia de que a Amazônia tem desmatamento descontrolado envolve muito risco reputacional, vira lugar de risco para investidores. Se não houver investimento de qualidade, terá de má.
A solução, avalia o pesquisador, exige acordo entre Judiciário, Legislativo e Executivo.
— Se não for feito logo, o Brasil vai começar a perder soberania. E a ameaça não é estrangeira, vem do crime organizado. Não era um problema há 20 anos. Mas não é possível regularizar terra invadida pelo crime organizado. Existem lugares na Amazônia onde há muita dificuldade de o Estado entrar novamente.
É por isso que Veríssimo argumenta que zerar o desmatamento — entre aspas, porque sempre vai existir de forma residual — em grande escala é uma medida de natureza econômica, porque cria condições para o investimento de qualidade.