Faz quase um mês que a fumaça das queimadas na Amazônia - e agora também no Pantanal e até em São Paulo - chega ao sul do Brasil.
O que gera esse acúmulo raras vezes visto de focos de incêndio é, outra vez, o "suspeito de sempre": a mudança no clima provocada por ação humana. Por extensão, todos nós temos responsabilidade nesse drama.
Essa culpa coletiva não tira o peso da outra acepção da palavra: o de quem tem obrigação jurídica de responder sobre o que ocorre em seu território. O governo Lula prometeu dar ao tema o tratamento necessário. Mudou o descaso que havia antes, mas ainda não o suficiente.
Nesta terça-feira (10), depois que a situação ficou insustentável, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está na região para anunciar medidas de combate às queimadas. Demorou a agir. A descrição sobre a situação feita pelo presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, dispensa críticas de oposição:
— É uma crise humanitária. Faltam mantimentos, água e medicamentos para comunidades. Os rios da margem direita do Amazonas estão todos secos. Se o clima mantiver algum padrão, deverá ocorrer chuva esparsa na Amazônia em outubro, o que resolveria o fogo, mas não o enchimento das calhas. Chuva boa só em dezembro. Até lá, essas populações estão sem comida e sem água.
Se nem respirando fumaça entendermos que precisamos mudar hábitos pessoais e práticas de produção, porém, a responsabilidade será cada vez mais difusa.
Ambientalistas alertam há anos para o temido ponto de não retorno da destruição da floresta amazônica: a cada episódio como este, por mais ligação que tenha com secas cíclicas na região, a Amazônia perde mais cobertura e, em consequência, mais umidade.
Para o Rio Grande do Sul, é um risco tão grande como o representado pela enxurrada de maio. Ou maior: sem a umidade amazônica que viaja pelas mesmas estradas aéreas percorridas pela fumaça, não haverá chuva suficiente para sustentar produção agrícola gaúcha. Não é questão de crença ou descrença: basta olhar para cima.
Leia mais na coluna de Marta Sfredo