A primeira vez que a coluna ouviu a possibilidade de o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) fazer o corte inicial de juro de 0,5 ponto percentual foi em entrevista com o economista André Perfeito.
Há pouco, o Fed afiou a tesoura e confirmou o corte mais pronunciado, pouco usual na instituição. Com isso, o juro anual de referência nos EUA fica entre 4,75% e 5%. Apenas uma das integrantes do Comitê Federal do Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), Michelle Bowman, votou por um corte menor, de 0,25 p.p.
A decisão vai esquentar as próximas três horas da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), que deve anunciar no final da tarde o começo de um miniciclo de alta da taxa básica.
O mais provável é que a decisão constranja o Copom a limitar a alta no Brasil em 0,25 p.p., porque a decisão do Fed tende a depreciar o dólar em relação a várias moedas. Além disso, com a queda maior por lá, o famoso "diferencial de juros" - o quanto a taxa é mais alta aqui do que lá -, aumenta, o que abre espaço para subir menos aqui.
Entre as muitas especulações sobre a decisão inusual do Fed está a de que embute uma expectativa de vitória de Kamala Harris nas eleições nos Estados Unidos, porque uma vitória de Donald Trump significaria projeção maior de inflação.
Mas Perfeito, que mesmo acompanhando a alta nas probabilidades de um corte maior do Fed considera a decisão "surpreendente", alerta para outra possibilidade:
— Essa decisão impõe limite à alta de no Brasil, dificilmente o Copom suba mais que 25 pontos básicos. Contudo, o BC tem uma chance de ouro nas mãos: se subir 50 pontos agora, pode sinalizar que será uma alta única.
Nesse caso, avalia, o choque pode servir de freio de arrumação das expectativas de médio prazo.
No comunicado, o Fomc afirma que "ganhou maior confiança de que a inflação evolui de forma sustentável para 2% e considera que os riscos para alcançar sua metas de emprego e inflação (o Fed tem duplo mandato) estão perto do equilíbrio (roughly in balance)".