O jornalista Rafael Vigna colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço.
Controladora da RGE, a CPFL Energia divulgou balanço do segundo trimestre com lucro líquido de R$ 1,1 bilhão, mas abaixo do resultado do ano passado. Apesar dos efeitos da crise climática, o CEO da companhia, Gustavo Estrella, vê com bons olhos a velocidade de recuperação no Estado.
Qual foi o impacto do RS nos resultados?
É preciso olhar os resultados com cautela. O impacto foi de R$ 112 milhões. Foram R$ 84 milhões na distribuição, R$ 19 milhões na geração e R$ 9 milhões na transmissão. Também houve baixa de ativos, em medidores que tivemos de substituir. Houve perda de estoque, material e o custos que a gente teve para recuperar as nossas operações de limpeza e construção. É um desafio, mas o que a gente percebe é que o grande efeito já aconteceu, agora, nesse trimestre deve ser menor. Como você sabe, o desafio da reconstrução continua.
E como você avalia o ritmo?
No nosso caso, o consumo da indústria era a maior preocupação, porque o Estado acabou sendo afetado não só nas bases da indústria, mas em toda a logística. Havia preocupação com o tempo que essa indústria ia demorar para retomar. Mas isso está em ritmo positivo. Por exemplo, o mercado industrial caiu 14% em maio, no auge da crise. Em junho, o consumo industrial caiu só 3%. Ou seja, de 14% para 3%. Mas, em julho, cresceu 7%, então é claro que existe um movimento de formação de estoque e recomposições. É um sinal muito claro de que a indústria está numa velocidade de recuperação, bem acima da nossa expectativa, o que é muito bom, não só para a CPFL, mas principalmente para o Estado de forma geral. Mas há uma discussão que a gente precisa fazer, de como é que a gente prepara o Estado, isso a gente realmente tem de fazer, como é que a gente prepara o Estado para enfrentar situações como essa. E talvez uma das ações, uma das iniciativas é exatamente essa, como é que a gente vai tratar o tema da arborização para realmente garantir e preservar, de novo, não só o fornecimento de energia, mas a infraestrutura do Estado de forma geral.
Vai ser preciso investir mais?
De fato, a nova realidade é essa. Em 2023, sofremos com 13 tempestades de grande porte no RS. É mais de uma tempestade por mês. Nenhuma foi igual a essa de maio, que foi muito fora da curva, mas o que a gente percebe é que aqui tem uma mudança na dinâmica de eventos climáticos. Na área de concessão, foram quase 99% das cidades, ou seja, praticamente toda a área foi afetada. No pico da crise, 10% dos meus clientes foram afetados com corte de fornecimento. Para você ter uma ideia, o temporal de janeiro bateu mais de 700 mil clientes desligados. Esse processo de preparação e robustecimento da rede tem trazido reflexo importante de evitar o corte de energia dos clientes e, mais do que isso, acelera a retomada.
Antes, os indicadores de RGE e Equatorial já estavam abaixo dos de SC e PR, por exemplo. Por que isso acontece no RS?
A primeira coisa é olhar a característica de cada região, relevo, tamanho da área, concentração de clientes. São condições muito, muito diferentes quando a gente compara uma concessão à outra. Se você vai na regulação, a meta para cada empresa é diferente. Então, o próprio regulador reconhece que algumas áreas têm nível de complexidade maior.
Qual é a dificuldade no RS?
É uma região muito rural, quando eu comparo com as minhas outras concessões, é muito mais rural. É uma área mais espalhada do que as minhas outras áreas de concessão. Nós vamos nos dois extremos aqui. Eu tenho quase 8 mil clientes em média por município. Em uma das minhas concessões de São Paulo, esse número é 68 mil clientes por município. Na Paulista, é 20 mil. Isso dá uma dimensão de que, numa zona mais rural, onde eu tenho clientes em uma região mais espalhada, naturalmente, o meu desafio de recomposição de rede é maior.
Mesmo assim, as metas não são atingidas?
Sobre a RGE, hoje roda com a metade das durações de interrupção de serviços. Era quase o dobro há cinco anos. O que a gente vem fazendo, realmente, é robustecer a rede, o máximo que a gente pode, pensando em tecnologia, numa região bem mais desafiadora. _