O jornalista Rafael Vigna colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço.
O convidado para a rodada do Fronteiras do Pensamento, em Porto Alegre, na quarta-feira passada, já está rouco de tanto refutar a pecha de “apocalíptico” que o acompanha desde 2006, quando dois anos antes “previu” em discurso para a nata do FMI o que seria o DNA da bolha imobiliária do subprime.
Nouriel Roubini é economista, acadêmico de Yale, com doutorado em Harvard. Nasceu na Turquia, mas fez carreira nos Estados Unidos. Chegou à Casa Branca durante o governo de Bill Clinton, na década de 1990, e preferira ser reconhecido como o “realista” que “alertou” sobre o crash de 2008.
Ele justifica: não se trata de previsão, mas de ter “percebido” o que viu inúmeras vezes em décadas de estudo nos mercados emergentes, dentre os quais a Argentina, a corroer o sistema financeiro na maior economia do mundo. Era uma bolha de crédito que se mostrou capaz de quebrar os mercados globais.
A diferença é que, agora, quando identifica as “mega-ameaças” capazes de levar o planeta ao colapso, ele não está sozinho. Em janeiro, o tradicional relatório produzido e publicado após as discussões do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, não poderia ser mais claro. O documento também fixava os 10 riscos mapeados para este ano e colocava no topo lista da lista itens que afetam em cheio o Brasil e o Rio Grande do Sul.
A semelhança com 2006 é a mesma descrença do passado, ainda que as evidências saltem aos olhos. O roteiro adaptado de seu livro, publicado em 2023, parte da emissão de dinheiro em massa para contornar a perda de renda pandemia, o que lançou o endividamento público e privado à estratosfera. Muito mais dinheiro será demandado para arcar com o que ainda virá: a “bomba relógio demográfica” e o caos pelo descaso climático.
No segundo aspecto, não é por acaso que os protocolos de Paris fixaram a necessidade de evitar o avanço de 1,5 grau celsius (já ultrapassamos a casa de 1,2 grau) na temperatura média do planeta. É porque, ao atingir 2 graus celsius, a comunidade científica admite que 2,5 bilhões de pessoas terão de abandonar locais inabitáveis para se abrigarem em outros inóspitos. Melhor não avançar sobre os temas IA e criptomoedas. Entre o “apocalíptico” e o “realista”, talvez Roubini seja, de fato, mais um dos acometidos pela Síndrome de Cassandra, que tem na titular desta coluna uma de suas representantes crônicas.
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