Um debate que surgiu em junho, mês de trovão marcado pela alta do dólar para a fronteira dos R$ 5,70, voltou agora com o ensaio de volta a esse patamar, desta vez às vésperas da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC).
Não há expectativa de que Copom decida aumentar a taxa, agora em 10,5% ao ano, na quarta-feira (31), quando se encerra a reunião.
Mas o comunicado será outra vez analisado com lupa em busca de mudanças no discurso que possam embutir um sinal nesse sentido.
Assim como o dólar, os juros futuros voltaram a subir na semana passada. Uma das pressões foi o resultado do IPCA-15, conhecido como "prévia da inflação" por ter a mesma metodologia do índice oficial, só com outra data de coleta de preços. Mesmo baixo (0,3%), o indicador ficou acima do esperado, o que causou preocupação.
Na interpretação de parte do mercado, esse movimento dos juros futuros reflete a percepção dos agentes econômicos de que o Copom pode voltar a elevar a taxa básica. Quem pensa assim adverte que "tudo precisa dar muito certo" para evitar essa consequência.
O alerta ganha eco depois que a equipe econômica mostrou dúvida sobre a capacidade de entregar a meta fiscal de déficit zero ou se realmente será preciso ocupar toda a margem de tolerância, apresentando rombo perto de R$ 28,8 bilhões.
Quem discorda avalia que o Brasil pode "passar vergonha" se voltar a aumentar a Selic agora que se fortalece a expectativa de que o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) enfim comece a cortar o juro por lá em setembro.
Os fatores de pressão no mercado
Queda nas commodities: nos últimos dias, foi o que preponderou, com redução nos preços de matérias-primas básicas. Para o Brasil, significa menos receita em dólares, embora o país siga com sólida projeção de saldo positivo na balança comercial.
Demora no início de cortes de juro nos EUA: a taxa alta lá e mais baixa aqui diminui a atratividade de investimentos no mercado financeiro no Brasil, e investidores resgatam aplicações aqui para migrar para mercados mais lucrativos.
Ajuste fiscal: o anúncio de cortes já neste ano e planejamento antecipado de redução de despesas para o próximo ano chegou a proporcionar algum alívio, mas não duradouro. Ainda há forte ceticismo de que o governo vai entregar o resultado dentro da meta ou da margem de tolerância de 0,25% do PIB.
Conflitos e eleições pelo mundo: conflitos entre Rússia e Ucrânia e entre Israel e Hammas elevam incertezas, assim como eleições. A dúvida sobre a eleição nos EUA aumentou com a desistência de Joe Biden e sua virtual substituição por Kamala Harris.