Depois da onda de reavaliação positiva do Brasil pelas agências de classificação de risco, em meados do ano passado, surgiu em pleno feriado de 1º de Maio uma nova boa notícia nessa área: uma das três grandes globais, a Moody's abriu a porta para um novo aumento da nota e melhorou a perspectiva de "estável" para "positiva".
Mas o que isso quer dizer? Que do ponto de vista dessa agência, o Brasil tem mais possibilidade para honrar suas dívidas. Geralmente, a mudança na qualificação costuma ser um aceno para uma subida na nota.
Caso mais à frente a Moody's eleve o Brasil da nota atual de Ba2 para a próxima na escala, Ba1 (entenda abaixo), deixará o Brasil a um degrau da porta de entrada do "clube dos bons pagadores", ou seja, países considerados seguros para investir.
Na nota em que comunica a mudança, a Moody's justifica dizendo que um "crescimento mais robusto" combinado com um "continuado, ainda que gradual, processo de consolidação fiscal, pode permitir ao Brasil estabilizar o peso da dívida".
Foi uma surpresa positiva depois da mudança na meta de superávit prevista para 2025, trocada por um objetivo menos ambicioso de déficit zero. Essa iniciativa do governo Lula, combinada à maior incerteza no cenário internacional, havia feito o dólar subir e a bolsa cair nas últimas semanas.
Mesmo só a melhora da perspectiva, sem aumento da nota, tem potencial para reduzir um pouco o custo da rolagem da dívida, que no ano passado atingiu o recorde de R$ 6 trilhões. Essa decisão também será alvo de debates na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) da próxima semana, assim como a suposta contradição entre desemprego em baixa e inflação desacelerada.
Qual é a importância das agências de rating?
Como a coluna já comparou, o papel das agências de rating é semelhante ao da Serasa no Brasil. Todo brasileiro sabe que, se estiver "na Serasa", não tem acesso a crédito regular e, se precisar desesperadamente de um empréstimo, terá de recorrer a fontes menos respeitáveis, digamos assim.
O que fazem Fitch, Moody's e S&P - que respondem por cerca de 80% do mercado global de avaliações de risco - é muito parecido. O que avaliam, basicamente, é o risco de calote. Então, é fácil de entender: se o temor de inadimplência for grande, o crédito vai custar mais caro. Se é baixo, tomar ou rolar os empréstimos custará menos.
O Brasil não só precisa fazer mais financiamentos para bancar o aumento das despesas públicas acima das receitas como tem de rolar prazos de forma contínua. Ter melhor nota de crédito permite que essas negociações ocorram com taxas mais baixas - assim como o prometido com o cadastro positivo de consumidores brasileiros.
O que significa a "sopa de letrinhas"
A classificação das agências parece boletim de escola, mas um pouco mais variado, quase uma sopa de letrinhas e sinais. Parte do AAA e vai até o D de "default", calote no linguajar do mercado financeiro. Até para facilitar o entendimento, as mais de duas dezenas de combinações são divididas em três grupos:
- O primeiro é chamado "grau de investimento", que o Brasil ambiciona recuperar, apelidado de "clube de bons pagadores" para facilitar a compreensão.
- O segundo tem o nome educado de "grau especulativo", mas apelidos depreciativos: "junk bonds", ou "títulos podres". É onde o Brasil está agora.
- O terceiro é tão ruim que nem apelido formal existe, mas a coluna já classificou de "inferno", onde nenhum país quer entrar e todos querem sair. É onde está a Argentina, que tem CCC da S&P, CA pela Moody's e CC pela Fitch.