A queda no investimento que marcou 2023 projetou crescimento modesto para este ano - que já está em revisão -, mas não deve se repetir na mesma intensidade neste ano, ao menos a julgar pelos resultados de uma empresa abastecida por esse tipo de aporte, especialmente em modernização. A SKA assina projetos de transformação digital para gaúchas como Marcopolo e Grendene, nacionais como Tigre e Weg e internacionais como AstraZeneca e ArcelorMittal. Embora tenha berço em Joinville (SC), a empresa está no Tecnosinos, até para se aproximar dos muitos clientes gaúchos. Nesta entrevista exclusiva à coluna, seu CEO, Siegfried Koelln - atende por "Sieg" (pronuncia-se Zig) cita exemplos do que o desenvolvimento de novos produtos e processo já estão em aplicação.
A queda no investimento de 2023 se esticou para este ano ou a situação já é outra?
Há segmentos diferentes e também empresas em estágios diferentes, até de maturidade. Quando se tem um juro na altura em que está no Brasil, é óbvio que inibe investimentos. Mas muitas empresas fazem a leitura da necessidade de se modernizar, adotar os critérios da indústria 4.0. Nem tudo passa pelo custo do dinheiro. Às vezes, os empresários não têm atenção ou tempo para identificar alternativas que existem para ajudar nesse processo, como as linhas de financiamento para inovação da Finep. A Ska teve crescimento expressivo no ano passado, então essa redução no investimento não se refletiu aqui dentro. Ao mesmo tempo, muitas empresas avançaram bastante e iniciaram projetos ambiciosos. E não são projetos de ciclos curtos, que começam hoje e terminam em pouco tempo. Até porque o que é verdade no ano passado não será no próximo ano. Quando ouço frases como 'o que tenho me atende', fico pensando. Será que é líder de mercado, será que vai continuar sendo no próximo ano? Agora já tem de estar construindo o futuro, para não ficar de fora. É duro, mas é verdade.
Temos uma linha pré-aprovada no BRDE com recursos da Finep. Já atuamos nessa área há 35 anos, então nossas relações são duradouras.
Como um processo de modernização, que é estrutural, pode ajudar no conjuntural, que está desafiador?
Usar processos mais modernos e eficientes sempre dá retorno para o investimento. Claro que é diferente em cada negócio. Mas existem alternativas de menor impacto no caixa. Pode alugar software ou até hardware. Há opções como o software as a service (cobra por uso não por licença), que também exigem menor desembolso. E até certo ponto, até nós ajudamos a financiar. Temos uma linha pré-aprovada no BRDE com recursos da Finep. Já atuamos nessa área há 35 anos, então nossas relações são duradouras. Com alguns clientes, começamos a trabalhar quando a engenharia era manual, na prancheta. Depois passamos por computador, desenho em 2D, simulações. Hoje, fazemos passeios virtuais, olhamos e manuseamos produtos sem que existam fisicamente. Isso traz grande redução de custos. E alguns processos fazem entrar em outra realidade, novos materiais, os compósitos, que permitem redução de peso e novas geometrias.
Que segmentos estão mais adiantados na digitalização?
A cadeia automobilística é uma das mais atentas. Há novas fábricas montadas há pouco tempo com conceitos de alta modernidade. Essas unidades não permitem que, lá na ponta, tenha um fornecedor ainda operando com arco e flecha. Se for assim, não vai conseguir sobreviver por muito tempo. E está assim porque é um dos segmentos em que existe maior competição, que está crescendo com os chineses. E tem a área médica, que faz impressão 3D de próteses faciais, por exemplo, a partir de ressonância do crânio.
Em alguns segmentos estamos bastante bem, em outros o Brasil não existe.
E como o Brasil está posicionado no avanço para a indústria 4.0?
Estamos bem. Temos alta eficiência na cadeia de indústrias que servem o agro. Está avançado porque a indústria avançou. Se ainda estivéssemos na junta de bois, isso não teria acontecido. Mas em alguns segmentos estamos bastante bem, em outros o Brasil não existe. Os brasileiros são conhecidos pela criatividade, pela capacidade de adaptação. Temos excelentes profissionais, a perda de talentos é uma preocupação. Temos chamadas do Canadá para gente com experiência, não para altos funcionários, mas para trabalhadores da produção. Nossa mão de obra é boa, bem treinada. Precisamos de renovação, de reinventar nossos processos. Novas tecnologias são fundamentais para formar os profissionais de amanhã, não para a virada do século.
O que é manufatura aditiva, que está na agenda da indústria 4.0?
É quando, em vez de retirar material para fazer um produto, a fabricação adiciona matéria-prima. A tradicional pega um bloco e vai esculpindo, digamos, manual ou mecanicamente. Um caso de manufatura aditiva são próteses que vão em contato com o osso. Antes, a fixação era por pinos. Agora, é com uma espécie de favo de mel, que se integra ao osso e aumenta a durabilidade da intervenção. Isso usa diferentes materiais e processos. Outra aplicação é em motores de carros de Fórmula 1. Vi em Hannover um modelo com cerca de 240 peças feitas em manufatura aditiva. Essa técnica entrega melhor desempenho e tira peso.
Os modelos atuais já integram soluções de inteligência artificial?
Está começando a ocupar espaços, mas também já muito usada, na prática, sempre que se lida com grande volume de informações. É fundamental para a tomada de decisões e apoiar mudanças de forma assertiva.