A grande novidade do sexto corte seguido de 0,5 ponto percentual no juro básico foi a mudança no comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), que cortou o plural mantido desde agosto de 2023 e só se comprometeu com "redução de mesma magnitude na próxima reunião".
A leitura foi de que o singular significava que só mais um corte de 0,5 ponto percentual na taxa Selic estava garantido, o de 8 de maio. Depois, tudo dependeria do acompanhamento de indicadores. Mas nesta terça-feira (26), a ata da reunião - um documento mais detalhado - mudou um pouco o cenário.
A frase que deixa uma fresta aberta para a manutenção do ritmo de poda mantido há oito meses sustenta que a "alteração reflete tão somente uma análise de custo-benefício da utilização desse instrumento adicional de política monetária (a sinalização futura)".
Um dos argumentos para a retirada do plural foi de que "uma retirada tardia, possivelmente vista como uma promessa não cumprida, deveria ser evitada porque poderia ter impacto sobre a credibilidade futura da comunicação e provocar volatilidade excessiva".
Isso reflete o temor de que, se mantivesse o plural e não "entregasse" corte de 0,5 p.p. em junho, o Copom pudesse provocar estresse no mercado. A conclusão unânime foi de que "o cenário mais incerto reduzia o benefício da sinalização futura e elevava seus custos". Trocando em miúdos, o BC decidiu se precaver por não ver vantagem em manter a previsão por três meses, já que as reuniões ocorrem a cada 45 dias.
A ata afirma que "seria um equívoco interpretar a mudança na sinalização futura como uma indicação de alteração do ciclo de política monetária compatível com o cenário-base". Nesse trecho, o Copom tenta não se comprometer nem com corte menor em junho. Mas avisa que "alguns membros argumentaram ainda que, se a incerteza prospectiva permanecer elevada no futuro, um ritmo mais lento de distensão monetária pode revelar-se apropriado, para qualquer taxa terminal que se deseje atingir". Ou seja, há diretores do BC que querem, sim, moderar os cortes.