A gaúcha Roberta Knijnik, gerente de vendas e marketing da Intel para a América Latina, foi uma das executivas que circulou no South Summit, segundo ela mesma para "sair da bolha" e ver outras propostas de inovação, inclusive para ver para onde está se expandindo a demanda por processadores, principal produto da companhia.
— Quase todo mundo conhece o tan-tan-tan-tan (assinatura sonora) da Intel, mas às vezes não se sabe que foi a empresa que levou o silício para o Vale do Silício (o mineral é essencial nos chips, ou semicondutores, essenciais nos processadores). A gente também precisa fazer o refresh da nossa máquina, de ver outras referências — disse à coluna em uma conversa no Cais Mauá.
No momento em que outra produtora de chips, a Nvidia, ganha atenção, a executiva vê um momento de transformação no mercado, no qual o principal papel da Intel é levar os avanços da inteligência artificial até o usuário final..
Como a Intel tem encarado a corrida dos chips para inteligência artificial?
É um ponto de inflexão que não ocorreu ao menos nos últimos 20 anos, que foi a revolução da internet. O cliente final está conseguindo entender melhor o que dizemos há anos em que a Intel vem trabalhando com inteligência artificial. Agora as aplicações básicas do dia a dia estão mais claras, como um abafamento de ruído nessa nossa conversa. Obviamente, agora estamos vendo aplicações muito mais complexas. E temos visto outros players no mercado. A Intel está acostumada a ser o grande número 1 em tudo que faz. Agora está mais desafiada. Segue líder, mas tem uns companheiros fazendo mais ruído. Mas no final das contas, isso eleva a barra no mercado e faz com que mais pessoas tenham entendimento sobre como estamos entregando essa facilidade.
O que significa hoje a IA para as pessoas, só brincar de fotos com cenário criado virtualmente?
Se antes se falava em melhoria de desempenho, agora se fala de diferença no dia-a-dia. As pessoas podem ter um assistente pessoal, até o final do ano vamos ter realidade. Se estou no carro, dirigindo, e percebo que tinha de fazer uma apresentação que não ficou pronta, posso pedir para esse assistente fazer. Será possível fazer isso do carro, sem depender que hoje a gente ainda depende hoje, de sinal de internet. Então, vamos conseguir fazer tudo o que fazemos hoje sem internet. Isso vai ser o grande regalo. Até o final do ano, será possível fazer isso direto do teu computador, que vai ter a própria inteligência artificial e vai trabalhar sem depender de conexão, de nuvem e de latência. Só na otimização das principais aplicações que a gente usa, vamos ter uma economia de bateria de duas a três horas por dia. Porque será um computador preparado para rodar essas aplicações.
A Intel disputa mercado com a Nvidia ou são finalidades diferentes?
Estamos vivendo esse momento em que todo mundo está falando em GPU (graphics processing unit), que é o grande produto da inteligência artificial. A Intel também tem, tanto para os PCs, que são a minha área, até grandes datacenters. Mas o universo de inteligência artificial não se restringe a isso. Há uma supervalorização desse produto, e acho que a Nvidia tem conseguido se vender da mesma forma que qualquer outro faria se fosse eles. Entendo a estratégia por trás. Mas é importante esclarecer que inteligência artificial não depende só de GPU. É uma parte importante, mas não é a única. A Intel está executando sua grande estratégia, que é cinco nodos em quatro anos. O objetivo é mostrar ao mercado essa cadência de produtos muito conectados com as nossas necessidades. O mercado tem base em Intel. Os desenvolvedores vão usar produtos físicos com base em Intel, que por consequência vão desenvolver aplicações que vão rodar melhor nessas bases. Temos visto a Nvidia crescendo muito e tendo um papel muito importante e relevante nesse mercado em relação à AI. Nosso papel é aplicar na vida real, chegar ao usuário.
Quando teremos a parte boa da IA, que é o ganho de produtividade?
Hoje, no Brasil, já temos produtos prontos para usar inteligência artificial. É bom lembrar que, há três anos, estávamos vivendo a complexidade de pandemia, de covid, e com falta de produtos no mercado. Então muitos clientes compraram o que estava disponível, não o que era ideal. Agora, estão percebendo que o que compraram não é adequado e está afetando a produtividade. Os computadores preparados para a IA vão ter uma marca, Intel Ultra.
O mercado de chips já se normalizou?
Está se normalizado, vamos dizer assim. A Intel está construindo fábricas na Europa, nos Estados Unidos. A aplicação vai muito além do universo de PCs, há ferramentas para a casa, o carro. Estamos criando centros para poder fornecer e apoiar mais. Porque a tendência é uma dependência de processamento cada vez maior, porque estamos gerando mais conteúdo, mais dados.
*Colaborou João Pedro Cecchini