Fabricante de celulose e papel com sede no Chile e unidade em Guaíba, a CMPC é uma empresa que está ganhando com a substituição de produtos plásticos por material renovável. Conforme a gerente da CMPC Ventures, Bernardita Maria Araya, essa vantagem competitiva do segmento não acomoda a empresa, ao contrário, desafia a buscar novas aplicações para o material - também uma resposta para as críticas sobre o cultivo de eucaliptos. Araya foi palestrante do South Summit, nesta quinta-feira (21), e, em entrevista à coluna, falou sobre a busca da gigante centenária por parcerias para inovar, envolvendo empresas, pessoas e poder público. A executiva estreou no evento de inovação com uma ambição: fazer contato com startups brasileiras para buscar parcerias como a que já tem com uma finlandesa.
Como inovar em uma área que parece tão tradicional, tão industrial e pesada?
Há um desafio comum que se coloca na indústria dos plásticos, na indústria da construção, na indústria dos combustíveis, na indústria das fibras têxteis. Muitas destas indústrias precisam de novas matérias-primas, porque todas vêm da indústria petrolífera. E produzimos uma fibra que é sustentável. Portanto, há um espaço, uma oportunidade e, para mim, uma responsabilidade que devemos assumir na procura de novas aplicações ou utilizações.
Inclusive para substituir as matérias-primas fósseis?
Essa é a nossa responsabilidade. Nós manejamos florestas, produzimos fibras que são sustentáveis e que são reconhecidas em todo o mundo. Mas não vamos ficar nisso. Por isso, queremos explorar essas novas aplicações para aumentar o valor da nossa fibra. E nesses mercados surge a oportunidade de procurarmos substituições. A nossa indústria, apesar de parecer muito tradicional, tem muita tecnologia, é muito avançada na sua automação.
A CMPC tem parcerias para atingir esse objetivo?
Temos uma startup parceira, na Finlândia, que produz um tipo de espuma para embalagem a partir de celulose, o que também facilita a reciclagem. Estamos estabelecendo ligações com startups que tenham novas tecnologias. Queremos crescer juntos. Eles não sabem tudo e nós sabemos que não sabemos tudo. Por isso, o desenvolvimento tecnológico tem de ser compartilhado. Parte da vinda ao South Summit é para acelerar essas ligações. Temos várias ligações com o Brasil, principalmente com fundos de investimento, mas queremos olhar mais de perto para o que está acontecendo no empreendedorismo e no desenvolvimento de novas tecnologias. O Brasil tem acelerado muito os processos associados à sustentabilidade, à cana-de-açúcar, aos resíduos agrícolas, mas o objetivo de vir aqui é conectarmos talvez a outras empresa que têm a ver com a indústria florestal e de papel.
Na questão florestal, há questionamentos sobre sustentabilidade. Alguma inovação pode ajudar?
O que a inovação permite é obter produtos com maior valor agregado quando cortamos uma árvore. Tiramos o máximo de proveito da árvore, todos os tipos de materiais que podem ser retirados, compostos químicos, papel, madeira, resinas, colas. É olhar para a árvore dessa nova forma e produzir soluções mais sustentáveis.
O custo para substituir produtos plásticos é um desafio?
Na América Latina, é um desafio. No entanto, se não avançarmos e não nos desenvolvermos, nunca conseguiremos baixar os custos. Temos de ser capazes de encontrar o produto certo, produzir em larga escala e de forma econômica. É preciso trabalho conjunto de empresas, comunidades e Estados.
Esse processo não está lento?
É um desafio que temos. Como ser mais ágeis, como ser mais rápidos, como estabelecer uma melhor ligação com as startups. Nessa área, não seguimos a lógica da velocidade tradicional da CMPC, uma empresa centenária. Temos de acelerar.
*Colaborou João Pedro Cecchini