Foi uma revelação do jornal americano The New York Times: depois que seu passaporte foi apreendido, na quinta-feira anterior ao Carnaval, o ex-presidente Jair Bolsonaro passou dois dias na embaixada da Hungria em Brasília. O diário tem vídeos da movimentação do ex-presidente na ala residencial da embaixada.
Dadas as imagens, a defesa do ex-presidente nem tentou desmentir. Em nota, confirma que passou dois dias no local para "manter contatos" - em pleno Carnaval.
Só para localizar: a embaixada fica em Brasília, onde mora Bolsonaro. Entre os dois pontos, o transporte de carro leva 18 minutos, conforme consulta ao Google Maps. Qual a necessidade de passar a noite no local?
Obviamente, surgiram especulações de que o ex-presidente teria ido buscar asilo político na representação nacional do governo de Viktor Orbán, outro ultradireitista que já andou rompendo muitas das "quatro linhas".
Pouco antes da ida de Bolsonaro à embaixada, Orbán havia se manifestado em defesa do ex-presidente brasileiro, publicando sua foto nas redes sociais e o animando a "continuar lutando". Caso tenha havido a intenção, o que teria dado errado? Bolsonaro desistiu? Orban negou?
A situação é tão estranha que será investigada pela Polícia Federal. E, claro, o caso já se desdobra em interpretações legais. Um grupo de jurista avalia que uma tentativa de obter asilo político pode ser interpretada como uma tentativa de evitar a aplicação da lei, portanto justificaria um pedido de prisão preventiva. Outro grupo pondera que, mesmo ficando dois dias dentro de uma embaixada - um território inviolável, portanto onde não poderia ser preso - Bolsonaro não chegou a abandonar o território nacional, portanto não haveria punição possível.
É possível que nada ocorra, de concreto, em decorrência do estranho comportamento do ex-presidente. Mas por mais que um presidente no exercício do mandato deva evitar esse tipo de manifestação, o novo episódio pode ser usado por Luiz Inácio Lula da Silva para justificar suas opiniões sobre o antecessor.