Quase tão ruim quanto a declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi a ameaça que veio do chanceler israelense Israel Katz: "não esqueceremos nem perdoaremos". É uma contradição à frase seguinte, que considera Lula "persona non grata em Israel até que se retrate e retire o que disse". A conclusão seria de que o presidente brasileiro poderia se retratar, que nem assim seria perdoado.
Lula deveria se retratar. Não por Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, mas pelos brasileiros.
O presidente cometeu um erro terrível - nada menos do que isso - ao comentar de maneira leviana a assimetria de forças na guerra de Israel contra o Hamas. As duas primeiras são inverdades, a terceira é verdade, mas a quarta é um desastre total:
— É uma guerra entre um Exército altamente preparado e mulheres e crianças. O que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existiu em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu. Quando Hitler resolveu matar os judeus.
A viagem à África durante a qual a declaração foi dada é mais uma das várias que Lula já fez, evidentemente pagas com recursos dos contribuintes brasileiros. Esses roteiros são alvos de críticas de quem acredita que o Brasil não tem um lugar de destaque no mundo. Com frequência, no ano passado era citada a cifra gasta com todas as viagens do setor público federal brasileiro - R$ 1 bilhão - como se fossem apenas as despesas dos deslocamentos presidenciais.
Outros brasileiros avaliam que esse é um investimento que vale a pena, para recolocar o Brasil no cenário global depois do eclipse do período entre 2019 e 2022. Só que ao cometer esse erro terrível, Lula desperdiçou parte desses recursos. A partir desse episódio, o Brasil perde qualquer capacidade de incidir nas negociações de paz no Oriente Médio. Será sempre visto com desconfiança. E tem sua reputação em fase de resgate arranhada novamente.
Não é proibido criticar Israel. A duração e a intensidade da reação aos ataques terroristas de 7 de outubro vêm sendo alvo de alertas de seu principal aliado, os Estados Unidos. Mas atirar a carta de Hitler na mesa está fora de questão. Ao atacar Israel dessa forma, Lula disparou um míssil contra seu próprio projeto de recuperar protagonismo global, sustentado pelos contribuintes brasileiros. Deveria se retratar.