Na véspera da edição do decreto em que o presidente do Equador, Daniel Noboa, reconheceu "conflito armado interno", a jornalista que assina esta coluna lia, um tanto assombrada, um relatório da consultoria de risco global Eurasia, que considera 2024 "o ano Voldemort". A referência pop é ao vilão da série Harry Potter, tão terrível que não deve ser nominado.
Segundo a consultoria, será um ano marcado por três guerras - Rússia X Ucrânia, Israel X Hamas e EUA X EUA (veja os 10 maiores riscos no final desse texto e clique aqui para acessar o original no site da Eurasia).
O relatório de riscos de 2024 foi publicado antes da admissão de guerra civil no Equador, país que pode não ser tão decisivo para o planeta, mas é um conflito a mais em um cenário já crispado. E já previa um cenário dominado por conflitos:
"2024. Politicamente, é o Voldemort dos anos. O annus horribilis. O ano que não deve ser nominado".
Apesar do início dramático, tem uma visão até otimista para a questão que estremeceu 2023: "a mudança climática vem sendo há muito tempo considerada um dos maiores desafios mundiais, mas o mundo está no caminho para responder - coletivamente, ainda que muito lentamente - porque todos entenderam a natureza do problema". Ao menos nesse ponto, a coluna espera que o relatório esteja certo.
Os maiores riscos de 2024
EUA x EUA: a eleição deste ano vai testar a democracia americana em um nível não experimentado nos últimos 150 anos.
Oriente Médio no limite: a região é um barril de pólvora e o número de jogadores fazendo movimentos torna o risco de escalada "excepcionalmente alto".
Ucrânia partida: o país será dividido na prática neste ano, um inaceitável resultado para a Ucrânia e o Ocidente que mesmo assim deve ser tornar realidade.
Inteligência artificial descontrolada: novos desenvolvimentos da tecnologia vão exigir mais esforços governamentais para regulação.
Aliança dos prescritos: um alinhamento mais profundo, com apoio mútuo entre Rússia, Irã e Coreia do Norte vai impor uma ameaça crescente à estabilidade global.
China sem recuperação: qualquer sinal de reação no gigante asiático só dará falsas esperanças de recuperação, porque restrições econômicas e dinâmicas políticas freiam uma sustentável retomada do crescimento.
Batalha por minerais críticos: a batalha por esse tipo de material (do lítio para baterias a terras raras para computadores) vai aumentar, com países intensificando o uso de políticas industriais e restrições comerciais.
Sem espaço para erros: o choque de inflação global que começou em 2021 vai continuar a ser um poderoso fator para a economia e a política em 2024.
A volta do El Niño: esse poderoso padrão provocará eventos climáticos extremos que causarão insegurança alimentar, aumentará a luta por obtenção de água, poderá provocar problemas logísticos, espalhar doenças e aumentar a migração e a instabilidade política.
Riscos nos negócios: as empresas ficarão sob o fogo cruzado das guerras culturais nos Estados Unidos e terão sua autonomia de decisão limitada e seus custos elevados.