O Brasil não estava "voltando"? O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já não havia ido ao Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, no ano passado, mas o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, encarou essa missão, parte importante da reconstrução da imagem do Brasil no mundo.
Havia expectativa de que a volta das férias de Haddad já se daria nos Alpes suíços, mas nesta segunda-feira (15) ficou claro que boa parte do governo brasileiro decidiu esnobar o encontro. A ausência pegou todo mundo de surpresa: mesmo depois do anúncio oficial, o nome do ministro ainda aparece em programações relacionadas ao fórum de Davos.
O Brasil não está mal representado: a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que tem o maior cartaz no Exterior, está lá. Mas a ausência do ministro da Fazenda do mais famoso encontro de economia do planeta há décadas deixa um buraco no plano do Brasil de recuperar sua imagem no Exterior.
Marina atribuiu a ausência do colega à necessidade de preparar a reunião do G20 (encontros de ministros de Finanças precedem as cúpulas presidenciais) que o Brasil preside nesse momento e disse que foi feito um "manejo sustentável" da agenda. A ministra tratou de dar leveza ao episódio, mas ainda há risco de ver falta de interesse do Brasil no universo dos grandes investidores.
É essencial "voltar" aos eventos de discussão sobre as mudanças climáticas, caso das COPs, às quais o presidente Lula comparece anualmente desde que foi eleito - em 2022, mesmo antes de tomar posse. Mas até porque os cuidados com o ambiente exigem pesado financiamento, seria conveniente que ao menos o responsável pela busca do equilíbrio fiscal - crucial para atrair investimento internacional - estivesse lá.
É verdade que Lula foi muito criticado por viajar muito ao Exterior em 2023 - passou 62 dias fora do Brasil, em 24 países de cinco continentes, em 15 saídas. Mesmo assim, já tem outra missão internacional na agenda em fevereiro, para a África. É verdade que outros presidentes importantes não vão - nem o da China, nem o dos Estados Unidos, por exemplo. Mas isso não impediu Lula de arrumar as malas e partir para a controversa COP28 em Dubai.
Se, como se especula, o presidente evita Davos por ser um evento "de mercado", sua ausência é perda maior para o país do que para o Fórum Econômico Mundial, preocupado com a proliferação dos conflitos ao redor do mundo. A presença presidencial obrigaria os participantes a prestar um pouco mais de atenção à essa parte do sul global.
Também é verdade que Haddad tem um senhor abacaxi para resolver, a solução para a desoneração da folha, que não estava prevista no orçamento. Mas no mundo das decisões virtuais, teria sido importante buscar, no mercado internacional, o respeito que já ganhou no nacional.