Sob qualquer ponto de vista, é mau sinal a atitude do Palácio Piratini de barrar a entrada de celulares na reunião para discutir soluções para a má prestação de serviços públicos, especialmente de distribuição de energia.
Não só pelo motivo óbvio: como se trata de um serviço público, todas as decisões devem ser públicas, ou seja, com livre acesso dos cidadãos e de seus representantes, portanto transparentes. Mas a atitude ainda guarda um tiro no pé: alimenta a suposição de que exista algo secreto a esconder ou - em tempos de viçosas teorias conspiratórias - a negociar.
Não é nem a deputados que os governos estadual - responsável pela privatização do serviço de distribuição de energia - e municipal, que por enquanto mantém público o abastecimento de água e o tratamento de esgoto, devem explicações. É à população.
É preciso dar respostas às pessoas que ficaram sem trabalho, perderam medicamentos, alimentos e paciência desde a tempestade severa do dia 16 de janeiro. Há exploração política do problema? Sem dúvida, tanto por parte da oposição quanto por alguns responsáveis pelo serviço, como a coluna já observou. Mas governar é assim: é preciso conviver com os bônus e os ônus da atividade.
Atualização: em resposta à coluna, o Piratini enviou uma justificativa, publicada abaixo porque, afinal, vivemos em democracia. Mas o que diferencia essa situação de uma reunião de secretariado ou de ministério é o assunto. Um é interno, outro é público.
"A retenção dos celulares é uma medida administrativa que foi adotada para melhorar a concentração e o andamento dos trabalhos, a exemplo do que ocorre em reuniões em Brasília, com o objetivo de garantir o foco e a atenção do conteúdo das discussões. Nesta quarta-feira, os convidados puderam usar o celular sempre que necessário, mas do lado de fora da reunião. O teor dos dois encontros, que são atividades de trabalho focadas em encaminhar soluções para os problemas, foi detalhado de maneira transparente pelo governador e pelas demais autoridades ao final da reunião."