Menos de seis meses depois de melhorar a perspectiva de crédito do Brasil, a S&P - uma das três maiores agências de análise de risco do mundo - aumentou a nota de crédito do país.
Na peculiar sopa de letrinhas, números e símbolos usada na atividade, o Brasil subiu de BB- para BB. Traduzindo, tinha um risco médio mais alto, virou risco "só" médio. Como a coluna já ousou comparar - para facilitar o entendimento - essas agências são uma espécie de Serasa dos países: apontam os bons e os maus pagadores.
Com o aumento de nota que faltava, exatamente o da S&P - as outras são a Fitch e a Moody's - agora nas três maiores agências de análise de risco do mundo faltam dois degraus para o Brasil voltar ao chamado "clube dos bons pagadores". O trio responde por cerca de 80% de todo o mercado global de avaliação de risco.
Mas o que muda na prática com a mera retirada de um sinal negativo? Em primeiro lugar, deixa o Brasil mais perto do objetivo de médio e longo prazo, que é recuperar a avaliação de crédito em grau de investimento (o tal "clube dos bons pagadores"). Depois, pode reduzir, ainda que discretamente, as taxas de juro que o país precisa pagar ao emitir mais títulos da dívida.
— A principal leitura é de que percepção de risco dos investidores, pelo olhar da SP melhorou. Mas isso é chover no molhado, porque é algo que já foi feito pela Fitch, pela Moody's e pela Austin. Se há uma novidade, é que só consolida que, dadas as perspectivas futuras, o Brasil está caminhando para melhorar seu rating no médio e longo prazo. Agora, para atrair mais investimento e reduzir bem a taxa de juro, precisa fazer a lição de casa, reduzir o endividamento e obter equilíbrio fiscal — afirma Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, agência nacional de análise de crédito que também já havia melhorado a avaliação da nota do Brasil.
Depois do anúncio, o dólar aprofundou a queda e fechou em R$ 4,965, resultado de baixa de 0,81%, e a bolsa acelerou a alta, caminhando para quebrar pela terceira vez no ano o recorde nominal em pontos, acima dos 131 mil pontos.
O que fazem as agências de análise de risco?
Fazem o chamado "rating", isso é, avaliam a probabilidade de um calote da dívida, tanto de países quanto de empresas. É um sinal importante para o mercado por motivos óbvios: se o temor de inadimplência for grande, o crédito vai custar mais caro. Se é baixo, tomar ou rolar os empréstimos custará menos.
A sopa de letrinhas, números e sinais das notas de crédito - que parte do AAA e vai até o D de "default", calote no linguajar do mercado financeiro - tem três grupos essenciais: o primeiro tem o que o Brasil ambiciona recuperar, o grau de investimento, que a imprensa apelidou de "clube de bons pagadores" para facilitar a compreensão.
O segundo tem o nome educado de "grau especulativo", mas apelidos depreciativos: "junk bonds", ou "títulos podres". É onde o Brasil está agora. Se voltar ao clube dos bons pagadores, o Brasil terá custo menor na rolagem da dívida.
Muitos fundos de investimento bilionários de instituições com foco no longo prazo têm regras que os obrigam a comprar apenas títulos com grau de investimento. Ou seja, estar no clube dos bons pagamentos diminui custos e aumenta a entrada de investimento no Brasil.