Alguns gaúchos muito respeitáveis se chocaram com a constatação de meteorologistas de que o Estado precisa se preparar para um "novo normal" climático.
Bem, o que está ocorrendo nos últimos dias ilustra à perfeição o que tentaram prevenir: a perda por efeito de fenômenos meteorológicos vai acontecer de novo. E de novo. E de novo. A menos que possamos acelerar planos estruturados de prevenção.
Podemos chamar, se ficar mais fácil de aceitar a ideia, de "novo anormal". O importante é entender que esses episódios vão se multiplicar. Tanto sob o formato de excesso de água - como vemos se repetir em cidades antes já arrasadas por inundações há pouco mais de dois meses - quanto por escassez, em uma futura que não tem calendário mas também se repetirá, quando El Niño ceder seu lugar a La Ninã.
Os climatologistas já advertiram que o estrago feito até agora não tem mais como ser revertido. Todo o esforço que devemos fazer é para não piorar o que já mudou e se traduz tanto nas inundações repetidas em períodos cada vez mais curtos quanto em ondas de calor inéditas no país e no mundo.
À longa lista que a coluna já publicou em setembro, há outra essencial, que só ficou fora por distração: o absolutamente inadiável reforço do sistema elétrico. É bom lembrar que, se no Rio Grande do Sul moradores ficam sem energia porque o vento derruba postes, no centro do país é o calor acima de qualquer média histórica que eleva o consumo e coloca em risco um planejamento que não tinha previsto temperaturas tão altas.
Então, só para atualizar, a lista de tarefas que todos temos à frente, como sociedade:
- Redefinir, com novos critérios, as áreas que podem ser atingidas por enchentes, em áreas urbanas ou rurais.
- Treinar à exaustão equipes capazes de convencer moradores a se mudar - convencer, não expulsar.
- Criar rotas de fuga e estrutura para receber quem terá de deixar suas casas. Isso não significa gastar fortunas que não temos em grandes obras, mas adaptar espaços que já existem para ocupação temporária: escolas, ginásios esportivos e - por que não? - igrejas.
- Começar a ensinar as crianças, nas escolas, a como agir diante de intempéries.
- Avançar com urgência em sistemas de alertas antecipados que permitam salvar bens, e, principalmente, vidas.
- Vigiar para não desperdiçar nem mais um centavo, público ou privado, em planos de prevenção que não saem do papel.
- Mudar cálculos estruturais, tanto de obras públicas que definem a mobilidade humana e de carga quanto de projetos residenciais.
- Plantar árvores.
- Reforçar contenções nas estradas, sempre com barreiras naturais, quando possível, porque duram mais e funcionam melhor.
- Aumentar a permeabilidade do terreno: menos asfalto, mais grama.
- Investir em irrigação, porque a água que agora sobra pode faltar no futuro.
- Reforça o sistema elétrico, para não agravar os estragos e atrasar o socorro quando desastres acontecem.