O que era especulação foi confirmado: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva demitiu a presidente da Caixa, Rita Serrano, e a substituiu por Carlos Antônio Vieira Fernandes, servidor do banco público indicado para o cargo pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), em nome do centrão.
O bloco parlamentar sem o qual nenhum governo parece capaz de aprovar projetos no Congresso havia se apropriado da pauta legislativa no período Bolsonaro, e segue recebendo nacos de poder. Além dos dois ministérios já abocanhados, ganha o comando do maior banco do Brasil em valor de operações de crédito (R$ 800 bilhões) e em número de clientes (150 milhões) e quarto em ativos financeiros (R$ 1,5 trilhão).
Mas a Caixa é mais do que uma instituição financeira portentosa nos números. Administra e distribui recursos de programas sociais - especialmente do Bolsa Família - e financia obras públicas, principalmente na área de saneamento básico, destinando recursos a Estados e municípios. É fácil de entender porque é tão cobiçada.
Mesmo depois que assumiu dois ministérios, em setembro, o centrão não comparecia com sua parte do acordo, ou seja, não fazia fluir ao menos a pauta econômica do governo no Congresso. A reforma tributária travou, propostas de reforço na arrecadação - como a tributação dos super-ricos - criam teias de aranha nas gavetas. Em maio, Lira havia feito o diagnóstico: o governo Bolsonaro "descentralizava, acreditava e delegava", mas o de Lula "tem centralizado, não tem delegado e não tem acreditado".
Faltava a Caixa. Agora, não falta mais. A instituição financeira vinha apenas se recuperando do estrago de imagem provocado por um antecessor de Rita Serrano, Pedro Guimarães, que espetou uma conta de R$ 10 milhões nos cofres por indenizações pagas a título de assédio sexual.
Transformar banco público em moeda de troca em negociação de apoio político é um mau sinal por princípio. Em um governo que não perde oportunidade para proclamar seu compromisso social, entregar uma instituição com tantos recursos e tantos braços, especialmente em ações destinadas a quem mais precisa só acentua as distorções que existem há décadas.