Faz quase um mês que se discute o futuro das vendas por cartão de crédito no Brasil. Quem colocou o debate na rua foi o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em suposto ato falho. Em audiência pública no Senado, Campos Neto afirmou que o rotativo - quando o usuário não paga toda a fatura do mês e "rola" a dívida - iria acabar. Era o rotativo, não o parcelamento, mas espalhou pânico no comércio.
Na última sexta-feira (1º), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que a solução será apressada com a inclusão na medida provisória que criou o Desenrola. Desta vez, será que vem um jabuti do bem? Se vier, precisa ser rápido.
Desde a frase de Campos Neto, o país discute não o fim do rotativo, mas do parcelamento no cartão de crédito, que não está em questão. Uma campanha publicitária está no ar ameaçando com "morte de negócios" se isso ocorrer. E que "os bancos" querem acabar com as compras parceladas no cartão. É certo que todos podem defender suas causas, mas o tom poderia ser, digamos, menos dramático, certo?
Pouco depois de ter levantado assunto, Campos Neto disse ter levado um "puxão de orelhas" -, não se sabe de quem, mas a suposição é de que teria sido de seu entorno financeiro. A Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), emitiu nota afirmando que "não há qualquer pretensão de se acabar com as compras parceladas no cartão de crédito".
Ao falar em cobrança de juros de parcelamentos de longo prazo, Campos Neto citou como ponto de corte algo por volta de 10 meses - prazo mais usual nos pequenos e médios negócios. Educação financeira também deve ser um valor para os comerciantes. Como o rotativo cria uma bola de neve, com seu juro anual na órbita acima de 400% ao ano, tem uma das inadimplências mais elevadas do planeta em linhas de crédito, ao redor de 49%. O problema é dos bancos? É. Mas cliente endividado no banco também não vai às compras.
Em agosto, o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) do FGV IBRE alcançou 96,8 pontos, maior nível desde fevereiro de 2014 (97 pontos). A desaceleração da inflação - que já começa a perder fôlego -, o início dos cortes de juro, o programa Desenrola e o cenário ainda favorável no mercado de trabalho ajudaram a melhorar o humor dos clientes do varejo e dos bancos. Criar uma guerra entre os dois segmentos aprofunda a incerteza e só contribui para azedar esse clima que vem despiorando.