Claro, vieram as críticas "de sempre". Mas o nome e o símbolo do Drex - o futuro real digital do Banco Central (BC), que deve estar ao nosso alcance entre o final de 2024 e o início de 2025 - receberam também resenhas mais fundamentadas.
A mais insistentes são a respeito da sonoridade do nome. A pronúncia remete a uma palavra com significado negativo em inglês, dread (forte sentimento de medo ou preocupação). Outros apontam excesso de obviedade no raciocínio, sempre em inglês e para iniciados no tema: digital real X, ou seja, transação em real digital em português.
Sempre é bom lembrar que o Pix também causou estranhamento, no início, e hoje está, literalmente, na boca do povo. Como afirmou na segunda-feira (7) o coordenador da iniciativa no BC, Fabio Araujo, o "batismo" foi responsabilidade do departamento de marketing do BC.
Entre ase brincadeiras, o nome foi associado a "analgésico para enxaquecas", como comentou um economista:
Mas um grupo menor - no qual a coluna precisa confessar que se inclui - achou curiosa a coincidência com um sobrenome famoso, o do cantor Jorge Drexler:
No capítulo "outras línguas", houve associações, digamos, ainda menos desejáveis:
Ainda houve reparos ao símbolo gráfico da nova moeda digital:
Embora seja necessário relativizar as criticas, a coluna dá seu pitaco: o BC desperdiçou o oportunidade de chamar o real digital de "Rex": manteria a família em três letras, como o Pix, e ainda ecoaria um dos sentido do nome da moeda - rex é rei em latim, de onde vem "real". Claro, como Rex ainda é um nome bastante comum para cachorros, talvez a opção tenha sido evitada por temor desse tipo de associação.
Sobre as "críticas de sempre", à esquerda surgiram as de "desapropriação cultural" e o já polêmico "neocolonialismo", enquanto à direita vieram as de "maior poder do Estado na vida do cidadão" e "drexapropriação" (na suposição de que, em meio eletrônico, o BC vá "se apossar" do ativo). E a coluna adoraria ter terminado esse texto despretensioso dizendo que, ao menos, ninguém ainda havia exigido cédulas impressas e auditáveis, mas não foi possível:
Não sei onde estava esse pessoal que não viu o sucesso do Pix, que é totalmente auditável mesmo sem ser impresso, assim como terá o Drex.
O real "tokenizado"
Sim, é meio complicadinho, mas a coluna tenta explicar: o real digital será uma forma de dinheiro tokenizada. Como? Significa que tem registro digital. A diferença é que hoje, quem define se uma pessoa tem R$ 10 na conta, e outra tem R$ 20 é um intermediário, no caso as instituições financeiras. A "tokenização" é uma operação digital que, de certa forma, substitui os bancos. Vários processos conferem a autenticidade do valor, o que dá robustez e segurança ao registro digital, permitindo que outros verifiquem. O que determina a propriedade do valor é uma chave privada do token. Hoje, quem "perde bitcoins", na verdade, perdeu a chave, e como o processo é totalmente descentralizado, não é possível recuperá-la.
— O BC não está fazendo uma criptomoeda, mas a representação da moeda nacional dentro desse universo de ativos digitais. A economia está se tokenizando. Já existem músicas, obras de arte, ativos financeiros, automóveis e imóveis tokenizados. Precisa de uma moeda para completar a transação de forma segura. Na falta de uma moeda oficial, são usadas criptomoedas e stablecoins. Mas baste olhar o dos criptoativos no Brasil, que não usados para pagamento, mas para investimento, as pessoas compram pela expectativa de variação no preço, não para fazer pagamentos.