O jornalista Rafael Vigna colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço
Segmento que inexiste sem crédito e que, ao contrário do que se pensa, o principal insumo não é o “tijolo”, e sim o “dinheiro”, a construção civil acompanha com atenção a curva dos juros no país. De olho no horizonte, o cenário já revela indícios que podem fazer com que o mercado surfe em nova onda positiva.
Em 2013, após o produto interno bruto (PIB) setorial avançar 3%, foram quedas em 2015 e 2016 e altas abaixo de 3% até 2019. Veio a pandemia e, no primeiro ano, retração de 3%. No segundo, em 2021, a explosão de 10%, ligada às restrições econômicas e o isolamento social que catapultou as vendas.
No ano passado, crescimento de 2,9% e, em 2023, estimativa de 2,3%, em um claro ajuste a atual conjuntura econômica, até então marcada por Selic estacionada em 13,75%, há muito tempo acima de dois dígitos. Juros altos afetam as duas pontas do negócio. De um lado, encarecem o financiamento imobiliário.
De outro, dificulta o acesso aos recursos – o chamado funding– nas incorporadoras. E, para as empresas, os danos vão além. É que, hoje, o crédito para construção tem origem prioritária no Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) – que usa parte do dinheiro da poupança – e nos depósitos do Fundo Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). As modalidades somaram R$ 1,27 trilhão, entre os mais de R$ 2,04 trilhões movimentados pelo setor no ano passado, mas reduziram de 76% para 62% o nível de concentração no funding imobiliário.
Significa que instrumentos alternativos, existentes no mercado de captais, ganharam terreno, inclusive em um ambiente desfavorável como atual. Atento à movimentação, o Sinduscon-RS, promoveu na sexta, evento direcionado a aproximar agentes imobiliários e incorporadoras às gestoras, corretoras e bancos.
Presidente da entidade, Claudio Teitelbaum comenta: quando os saques da poupança reduziram a disponibilidade de dinheiro destinado ao mercado, os Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs), as Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) e os fundos multimercado entraram em ação. Para se ter uma ideia, somente as LCIs ampliaram sua participação em 68% - de R$ 117 bilhões, em 2019, para R$ 313 bilhões, em 2022. Os CRIS avançaram 11% e atingem R$ 90 bilhões e os fundos bateram em R$ 188 bilhões. Os dados são da Associação Brasileira de Entidade de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip). Para o Head de Mercado de Capitais & FIIs da Warren, Guto Kosnitzer o movimento está apenas começando e por ele passará a nova onda favorável ao mercado imobiliário no país.