Ao que tudo indica, o combinado entre o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e o da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), foi algo como "garante o arcabouço que eu entrego os ministérios".
O desembarque do Centrão no governo é esperado há meses, mas constantemente adiado. Há um mês, o Brasil tem 39 ministros, dois ainda sem pasta - Silvio Costa Filho (Republicanos-PE) e André Fufuca (PP-MA) -, dois quase sem - um, ao que tudo indica, é Márcio França, de Portos e Aeroportos, enquanto ainda correm as apostas sobre o segundo.
A conta do Centrão não é pequena, e se tornou quase uma cédula rasgada em duas partes ou um "smart contract" (contrato inteligente), que só se completa quando as duas partes cumprem simultaneamente suas partes na transação. Entregue, mesmo, foi só a PEC da Transição. Arcabouço fiscal e reforma tributária, as questões definidoras de longo prazo, foram aprovadas pela metade, e a outra parte só será entregue, digamos, com a conclusão da transação.
No país campeão mundial do juro real, a dúvida é se, à medida que o tempo passa, o valor se deprecia - como tentam sustentar aliados do governo - ou é reajustado acima da inflação. Até a segunda-feira (21), havia um impasse: enquanto Lula não entregava os ministérios devidos, não havia votação do arcabouço fiscal. E sem as regras que limitam receitas e despesas da União, o Ministério do Planejamento faz diversas versões do orçamento de 2024, que precisa ser enviado ao Congresso até o dia 31.
Depois que Lula chegou a Johannesburg, na África do Sul, para a cúpula dos Brics, Lira assumiu o comando - ao menos desse jogo de xadrez: reuniu os líderes da casa e representantes do governo na residência oficial da presidência da Câmara, da qual saiu fumaça branca na segunda à noite: o projeto do arcabouço fiscal será votado nesta semana, entre esta terça (22) e quarta-feira (23).
Embora o mau humor do mercado financeiro ao longo deste mês tenha origem externa - decolagem dos títulos públicos dos Estados Unidos e a crise na China -, o fim do impasse é apontado como um dos elementos que, nesta terça-feira (22), faz o dólar se afastar um pouco da barreira psicológica dos R$ 5, e a bolsa engatar alta firme (1,07% no final da manhã) - caso se mantenha assim até o fechamento, será a segunda no mês inteiro. Claro, a reação nas cotações do minério de ferro e o afastamento dos Treasuries das máximas ajudam. Só ainda não está claro se o preço dos ministérios caiu ou subiu.