O jornalista Rafael Vigna colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço
Avanço de 1,9% na atividade econômica do primeiro trimestre, nova redução da inflação em maio, dólar abaixo de R$ 5, queda no preço dos grãos e expectativa de safra recorde sustentaram uma avaliação de classificação de risco no país, feita pela agência de rating S&P. Esses elementos, agora, modelam o cenário da próxima quarta-feira, data em que o Banco Central (BC) decidirá sobre a manutenção ou corte da atual taxa de juro. Apesar de pressões generalizadas do governo e do setor produtivo, algumas das principais avaliações do mercado indicam que não será dessa vez. É o que diz Rodolfo Margato, economista da XP, companhia que, na sexta feira, superou US% 1 trilhão em ativos de clientes sob a gestão.
De onde vem as boas notícias?
Há uma desinflação global de custos. Com a pandemia, especialmente em 2020 e 2021, os custos escalaram a montanha. Estavam elevados, pressionados por restrições de oferta. Isso se traduziu em uma inflação persistente e alta. Não só no Brasil, mas no mundo. Ao mesmo tempo as restrições de oferta afetaram os crescimentos das economias. O que se observa agora é o reverso disso. Estamos descendo a montanha, porque existe uma descompressão mundial de custos e basta acompanhar os preços das commodities que tiveram uma redução relevante nos últimos meses, especialmente as agrícolas. Também houve recuo nos custos industriais e nos gargalos das cadeias de suprimentos. Isso permite uma inflação corrente, mais baixa que também se observa no Brasil, com os serviços ainda um pouco preocupantes. Por outro lado, alimentos, combustíveis, energia e bens estão em patamares mais baixos, além de índices de preços do atacando com deflação.
E para o PIB?
O desempenho é muito forte na agropecuária. Isso, no mesmo compasso em que caem os preços dos alimentos. Fala-se de safra recorde com alta de 15% na produção de grãos (25% na soja). Isso puxa as estimativas do PIB (Produto Interno Bruto) e o agro já foi o protagonista do bom desempenho no primeiro trimestre. Em paralelo, outra vez, alivia-se a inflação e eleva-se a oferta. Há fatores como a abertura de mercados (China) que ajudam e a Balança Comercial deve apresentar recorde com superavit acima de US$ 70 bilhões.
O câmbio também ajuda?
Sim, porque até pouco tempo falava-se em taxas de R$ 5,25 que, hoje, estão em R$ 4,80. O investimento estrangeiro direto atinge patamares historicamente altos, acima de US$ 80 bilhões. O maior fluxo de ingresso de dólares gera nova pressão de baixa para o câmbio. Outro fator que contribui é a aprovação do arcabouço fiscal na Câmara. Talvez não garanta a estabilização para a dívida pública no curto prazo, mas traz alguma previsibilidade e reduz a percepção de risco fiscal. Ou seja, temos uma atividade surpreendendo para cima e uma inflação mais baixa. É o que acaba resumindo as surpresas positivas desse momento.
Chegou a hora de cortar os juros?
Uma política monetária mais restritiva foi correta e vai trazer bons frutos para a economia. Isso porque observava-se muitas pressões inflacionárias disseminadas, o que ensejava um aperto maior até que sinais mais claros aparecessem. As evidências começaram há duas leituras do IPCA e também das inflações do atacado. Ou seja, agora existe um volume maior de informações que corroboram com o alívio da inflação, mas não era assim no início do ano. Para o futuro, a expectativa é de que quarta-feira o BC mantenha a Selic em 13,75% ao ano e que teremos sinalização do comunicado no sentido de reconhecer alguns fatores externos e internos. Isso deverá apontar para um primeiro corte da Selic só em agosto. Esse é o cenário base da XP e reforçamos a expectativa de um início de ciclo de cortes, em 0,25%, e reduções adicionais, a partir de setembro, de 0,50%, o que levaria a taxa básica a 12% no final do ano. Há uma pressão, porque juros altos esfriam a demanda. Agro e política extrativa não dependem, mas comércio, serviços e indústria sentem os efeitos. A pressão sobre o BC é compreensível, mas a atuação é técnica e tem garantido uma previsibilidade, que agora, anuncia a aproximação de um novo ciclo de corte, em agosto.