A dedicação do então príncipe de Gales ao ambientalismo, muito antes que a preocupação com o futuro do planeta se disseminasse, foi um dos motivos que contribuíram para a imagem de "esquisitão" do rei que foi coroado neste sábado (6).
É bem verdade que o hoje rei Charles III defendeu projetos polêmicos de conservação, mas como a coluna já observou, o fato de o chefe de Estado do quinto país mais rico do mundo ter compromisso com a salvação da floresta tropical não é pouca coisa. Pela mão do primeiro-ministro, Rishi Sunak, o Reino Unido já anunciou contribuição de R$ 500 milhões para o Fundo Amazônia.
Ele criou em 2007 a organização não governamental (ONG) The Prince’s Rainforests Project (Projeto do Príncipe para Florestas Tropicais), que trabalha com governos, empresa e outras organizações para buscar soluções para o desmatamento fazendo com que árvores tenham mais valor vivas do que mortas.
Em uma monarquia anacrônica, Charles III é chefe de Estado, na verdade, de 13 países além do Reino Unido. É uma lista de ex-colônias britânicas que vai de Canadá ao pouco conhecido Tuvalu, ilha de 26 quilômetros quadrados na Polinésia - terceira menor área no mundo -, ameaçada de desaparição caso o nível dos oceanos siga subindo com o aquecimento global.
É bem provável que a monarquia britânica perca integrantes antes que Tuvalu afunde, mas depois de assentar a coroa na cabeça Charles III vai querer deixar sua marca no mundo. A questão ambiental será prioridade. Transformar o Palácio de Buckingham em edifício neutro em carbono será uma tarefa básica, mas insuficiente para deixar sua impressão digital na história - com a menor pegada de carbono possível.
A militância ambiental pública de Charles III começou em 1970, quando tinha 21 anos, quando fez seu primeiro grande discurso sobre o tema, alertando para os perigos do acúmulo de plástico. Foi preciso esperar quase cinco décadas para que os canudinhos saíssem de moda e fossem substituídos por papel, alumínio e outros materiais - mas aconteceu.
Aos 73 anos, o rei que será coroado amanhã tem a mesma pressa de Greta Thunberg, tanto pela mesma crença - o mundo não tem tempo a perder - quanto por saber que precisa usar toda oportunidade disponível para dar substância a seu projeto de vida. Se conseguir, longa vida ao rei.
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