A inflação de abril ficou um cabelinho acima das expectativas: 0,61% ante média de 0,55%. Esse seis centésimos de ponto percentual são difíceis de enxergar a olho nu, mas já viraram argumento para sustentar "a perspectiva de manutenção da taxa Selic em patamar elevado por um período suficientemente prolongado" nos comunicados do mercado.
Será? Há sinais de que o grande temor relacionado à inflação - o aumento de combustíveis na virada no semestre - pode não se confirmar.
O que mais inquietou, nos dados do IPCA, foram a aceleração da alta dos alimentos e a disseminação da inflação. Os preços da comida, que haviam ficado quase estáveis em março (+ 0,05%), avançaram 0,71% em abril. E os aumentos estão mais espalhados: o indicador que mede quantos componentes subiram cresceu de 59,9% a 66% de um mês para outro.
Mas também começam a aparecer o que os economistas chamam de "pressões baixistas", que terão de ser considerados no balanço de riscos do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC). André Perfeito, com anos de experiência no mercado financeiro, aponta algumas:
1. O avanço do novo marco fiscal no Congresso
2. Preços internos da gasolina ligeiramente acima da paridade internacional, o que sugere mais cortes em futuro próximo
3. A supersafra fora do Rio Grande do Sul, detectada no "susto" do crescimento acima do esperado em fevereiro, pode ajudar a baixar preços de alimentos
4. O real segue se apreciando ante o dólar, orbitando em torno de R$ 5 sem fugir muito desse patamar (nesta sexta, depois da divulgação do IPCA, está praticamente estável (-0,22%) em R$ 4,926.
— Tudo isso pode ajudar o Copom a iniciar uma sinalização de corte de juro de maneira mais clara na próxima reunião — cogita Perfeito.
As reavaliações aparecem em relatórios como o assinado por Alexandre Maluf, economista da XP: "vemos atualmente um viés de baixa para a nossa projeção para 2023 (6,2%), impulsionado pela valorização recente do Real e pela queda no preço do petróleo – estamos reavaliando nossa visão sobre os preços dos combustíveis ao longo do ano. Por enquanto, não estamos considerando cortes na gasolina, por exemplo.
Nesta sexta-feira (12), esse cenário foi reforçado por uma declaração ao jornal O Globo do presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, sobre a nova política de preços da estatal:
— Esse mistério vai acabar já. Daqui a pouco a gente vai anunciar. O que vamos divulgar é a estratégia comercial da Petrobras quanto a preços. Não é política de governo. É o que a Petrobras vai praticar como estratégia comercial respaldada nas vantagens competitivas de produzir e refinar no Brasil.
E, perguntado sobre o efeito líquido, cravou:
— Vai ter preço inexoravelmente mais baixo que o PPI.