Levantamento feito pela corretora Warren Rena com 108 profissionais do mercado financeiro entre terça e sexta-feira da semana passada e publicado nesta segunda (29) mostra que a maioria já espera alguma mudança no sistema de meta de inflação, que norteia as decisões sobre juro do Banco Central (BC).
Conforme a enquete, 48% espera o modelo atual, que fixa um objetivo para o ano-calendário - ou seja, 2023, 2024, 2025 -, seja transformado em um sistema com "meta contínua". Outros 41% têm expectativa de que esse prazo seja transformado em média móvel. Isso significa que 89% dos ouvidos esperam algum tipo de mudança.
Mas se parece claro que algo vai mudar, há grande incerteza sobre a profundidade das alterações: a exata metade (50%) espera mudança numérica da meta - já fixada em 3% ao ano em 2024 e 2025. Claro, a outra metade acredita na manutenção desse patamar. O debate ganhou atenção porque a reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN, formado pelos ministros da Fazenda, do Planejamento, da Gestão, e pelo presidente do Banco Central), ocorre em junho, ou seja, nas próximas semanas.
Mas o que é, exatamente, o sistema de "meta contínua", que tem leve predominância inclusive por já ter sido defendido publicamente pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad? Em vez de definir uma meta anual, o CMN passaria a fixar uma meta permanente, ou seja, válida para todos os anos seguintes.
Conforme analistas de mercado, esse formato já é aplicado pelo BC mesmo sem ter sido formalizado. Roberto Campos Neto, presidente da instituição, já afirmou que, se o Comitê de Política Monetária (Copom) não tivesse flexibilizado o cumprimento da meta no ano específico, a Selic deveria ter sido elevada a 26,5%. Esse formato já é adotado em vários países e não provocaria grandes sustos. Mas o fato de ser a mudança mais esperada não significa que seja a mais provável, exatamente por ser muito sutil.
Caso houvesse apenas essa mudança, sem alteração da meta de inflação em 3% ao ano em 2024, a maioria projeta até redução de até 0,25 ponto percentual no IPCA, ou seja, mais do que esperada essa alteração parece ser desejável.
Outra conclusão do estudo é de que aumento na meta de 2024 de 3% para 3,5% - com manutenção de prazo de um ano para cumprimento - provocaria impacto bastante limitado. Sem qualquer alteração, 50% prevê impacto na inflação entre zero e 0,25 ponto percentual (não me perguntem por quê). Com a elevação, esse percentual sobe para 58,3%, ou seja, "apenas" 8,3 pontos percentuais.