A emergência climática é tamanha que mesmo o menor gesto pode ajudar. Sabe a ceva no bar da esquina? Conta.
Quem percebeu a importância de cuidar de uma produção de resíduos pequena individualmente, mas relevante no conjunto, foram as engenheiras ambientais Natália Pietzsch e Amalia Koefender: em 2018 criaram a Arco para garantir a reciclagem de bares e restaurantes.
— Percebemos uma lacuna. Estabelecimentos de pequeno e médio porte, mesmo que se quisessem, não encontravam parceiros que garantissem a reciclagem. Na coleta municipal, não tinham certeza do que aconteceria com o material e o custo de um serviço privado era alto — relata Natália.
Montaram um modelo enxuto de gestão integrada de resíduos e atuam desde o treinamento até a organização das lixeiras. O foco é evitar ao máximo o envio de material para aterros. Já em operação, perceberam que hotéis, bares e restaurantes tinham complexidade extra: a destinação correta do vidro.
— É pesado, a armazenagem é complicada, porque costuma ter líquido, quando quebra representa riscos e tem baixo valor de revenda. É por isso que, quando tem evento de rua, os catadores levam latinhas e PET, mas deixam os vidros para trás — explica.
Nem a escassez que marcou a pandemia contribuiu para elevar o preço do vidro reciclado, embora represente redução de uso de energia para recicladoras. Na busca de solução para essa "dor" - como o ecossistema de inovação chama um problema -, esboçaram um programa e foram em busca de parceiros. Em uma visita à Verallia - terceira maior produtora de garrafas de bebida e alimentos do mundo, com unidade em Campo Bom -, abordaram o tema e, em poucos meses, surgiu o #vemdelong, programa de logística reversa específico para vidro.
— Estamos desenvolvendo um piloto até junho, já com conversas para expansão do projeto para a Serra e o litoral — adianta Natália.
O programa prevê a colocação de contêineres em bares, restaurantes e hotéis, com recolhimento periódico, conforme o volume disponível. O material é acumulado em um centro que a Arco mantém no 4º Distrito e enviado à reciclagem quando há volume suficiente.
— Aumentamos a taxa de reciclagem. A ideia é atuar em um segmento desassistido, que tem muito vidro, mas não o suficiente para a indústria. No início, em fevereiro, recolhíamos de quatro a cinco toneladas por mês, o que era pouco. Hoje, recebemos 22 toneladas ao mês — diz a empreendedora.
O programa já tem uma centena de clientes, atraídos inclusive pelo relativo baixo custo do programa. Natália diz que o "serviço completo" da Arco, que organiza a reciclagem completa, de todos os resíduos, tem tíquete médio de R$ 800. O específico de vidro sai por R$ 80.
— Isso permite chegar no boteco da esquina, porque é lá que está sendo gerado o vidro.
Natália fala em "boteco de esquina", mas o projeto está em points de Porto Alegre, como o El Aguante. Pronto, aí está o ponto: cuidar para onde vai aquela (s) garrafa (s) de ceva, já ajuda a salvar o planeta.
Curiosidade: a pronúncia do sobrenome de Natália é "pitx", exatamente como a da palavra em inglês "pitch", a apresentação rápida que startups fazem para atrair investidores. Claro que a coluna perguntou à empreendedora se isso já rendeu brincadeiras, ela confirmou:
— Sempre ouço que nasci para fazer pitch.
ESG na Prática
Atividades econômicas sem responsabilidade social e ambiental estão se tornando obsoletas. Práticas ESG (governança corporativa, social e ambiental) não são "moda": fazem parte da mesma transformação que digitaliza negócios e interações pessoais. Inovação não é só tecnologia, mas também diversidade e inclusão. Esta seção mostra o ESG na prática. Sugestões podem ser enviadas para marta.sfredo@zerohora.com.br