As vinícolas da Serra encontram dificuldades para envasar os produtos, como sucos, vinhos e espumantes. É que existe uma escassez de garrafas no mercado e, consequentemente, ocorre um aumento expressivo no preço para os vinicultores. A situação se arrasta há meses e afeta negócios de diferentes portes.
O cenário é complicado, ainda mais depois de uma safra com boa quantidade de uvas colhidas. Além disso, desafia um mercado aquecido. Em 2020, o Brasil foi o país que mais consumiu vinhos no mundo. De acordo com o presidente da Associação Brasileira de Vinicultores (Agavi), Darci Dani, a explicação das fábricas é de que houve uma redução na produção de garrafas no ano passado influenciada pela pandemia e, agora, devido ao aumento da comercialização, elas não conseguem dar vazão aos pedidos:
— Esta falta de garrafas está gerando um grande prejuízo para o setor vitivinícola brasileiro, pois o vinho está pronto e vai ficar nas pipas. Dependendo do volume da próxima safra, pode sobrar uva e, com isso, os viticultores também serão atingidos. Estamos com grande dificuldade de importar garrafas, por falta de disponibilidade e pelo alto custo.
Segundo o presidente da Federação das Cooperativas Vinícolas do Rio Grande do Sul, Helio Marchioro, a cadeia produtiva é prejudicada pelo câmbio, porque compra insumos em dólar, enquanto vende em Real. Ele conta que há garrafas que chegaram a dobrar de preço, mas outros produtos necessários para as vinícolas, como caixas de papelão, também tiveram aumentos nesta ordem:
— Existe quase um desespero total em relação à falta de garrafas. Também faltam outros insumos, mas a questão central é a garrafa. E, além da falta, os preços são impraticáveis. Isso é com papelão, tudo que precisar de insumos hoje, tudo o que tu for comprar, tu paga praticamente o dobro — desabafa Marchioro.
O proprietário da Vinícola Don Affonso e presidente da Associação Brasileira de Enologia, André Gasperin, acrescenta que outro fator que influencia na escassez de garrafas, que se arrasta desde abril do ano passado, é a centralização da produção em poucas empresas no país, que são pressionadas por outros setores para priorizá-los, como no caso da cerveja. O impacto nas vinícolas, em especial as de pequeno e médio porte, são atrasos nas entregas de pedidos e diminuição das margens de lucro para empresas que tinham encomendas prévias e não puderam revisar os contratos.
— Não se tinha disponibilidade de vidro e não se tem até hoje de alguns vidros, principalmente hoje uma dificuldade em vidro transparente para algumas linhas de produtos. Está bem complicado mesmo. As empresas maiores que têm contrato de fornecimento têm prioridade. As empresas menores têm que trabalhar com aquilo que a fábrica oferece. Então, o menor acaba sendo ainda mais prejudicada — argumenta Gasperin.
Segundo ele, o setor também chegou a enfrentar falta de rolhas e tampas para os produtos, mas essa situação já foi normalizada.