Dias depois que o governo Lula aceitou derrotas que fragilizam a ambição ambiental do Brasil, uma compensação vem do setor privado. A "comunista" - ou será "ecochata"? - Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) aprovou uma norma de autorregulação para seus associados.
Ao analisar o crédito à produção de carne - frigoríficos e matadouros -, será preciso cumprir requisitos mínimos comuns para combater o desmatamento ilegal. Maior financiador de projetos de longo prazo no país, o BNDES vai aderir à autorregulação e adotar a gestão desse risco na cadeia de carne no país.
No Brasil, os temas ambientais ainda são vistos - mesmo por parcela do empresariado que, em tese, tem boa formação e acesso a informação sobre tendências internacionais - como uma barreira ao "progresso". Nada mais antigo. Não há mais "progresso" sem cuidado socioambiental.
Outra tese que despreza as práticas ESG (governança corporativa, social e ambiental) é de que empresas só devem se preocupar com duas coisas: geração de lucro e perpetuidade do negócio. Em um planeta ameaçado, quanto tempo terá a "perpetuidade" que não considera eventuais agravantes aos riscos de colapso? As evidências científicas mostram que, apesar de o risco de catástrofe climática ter aumentado, ainda dá para salvar a Terra. Para isso, é preciso incluir medida de impacto ambiental no dia a dia dos negócios.
Conforme as novas regras da Febraban, aprovadas em março, os bancos participantes da autorregulação devem solicitar aos seus clientes na Amazônia Legal e no Maranhão a implementação de um sistema de rastreabilidade e monitoramento que permita demonstrar, até dezembro de 2025, a não aquisição de gado associado ao desmatamento ilegal de fornecedores diretos e indiretos.
— Os bancos estão no epicentro das cadeias produtivas do país. É necessário avançar no gerenciamento e na mitigação dos riscos sociais, ambientais e climáticos nos negócios e canalizar mais recursos para financiar a transição para a economia verde — argumentou Isaac Sidney, presidente da Febraban, para justificar a medida.
Diretor de sustentabilidade da Febraban, Amaury Oliva, disse que há consciência dos entraves para que a rastreabilidade atinja todo o ciclo, especialmente os produtores em estágios iniciais da cadeia de fornecimento. Por isso, o processo vai começar com fornecedores diretos dos frigoríficos e o primeiro nível dos indiretos, com mecanismos alternativos para os frigoríficos de pequeno porte.