Se vai funcionar, especialmente dentro do próprio governo Lula, é outro problema, mas o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, acabou dando uma ajudinha ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado.
Mesmo afirmando que não tem como antecipar quando o juro básico vai começar a cair, por ser apenas um voto entre os nove da diretoria do BC no Comitê de Política Monetária (Copom), afirmou que "as coisas têm caminhado no caminho certo".
A redundância - "caminhando no caminho" - parece até proposital para chamar atenção para o movimento, iniciado com a apresentação das bases da nova regra fiscal, seguida da apresentação do texto do Congresso. Embora o mercado ainda não tenha "comprado" totalmente a proposta, a sensação geral é de que não corresponde ao ideal, mas é melhor que o que se temia.
Mesmo que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha mantido as críticas ao juro alto, acertou o tom: direciona ao fenômeno, não à instituição nem ao dirigente de turno - o presidente do BC não é mais demissível pela vontade presidencial, mas tem mandato fixo. Essas, afinal, são legítimas e quase unânimes no Brasil.
Mas Campos Neto fez questão de lembrar ao atual comandante de turno da república que, se o juro alto o incomoda, a alta do juro incomodou ainda mais seu antecessor. Fez questão de recordar que o BC elevou a Selic para o patamar atual, de 13,75%, no início de agosto de 2022, pouco mais de dois meses antes do pleito. Disse que, se não tivesse feito isso naquele momento, a inflação hoje não estaria em torno de 5%, mas acima de 10%.
Entre o final da semana passada e o início desta, começaram a pipocar relatórios de mercado projetando corte no juro básico. Não na reunião do Copom da próxima semana - embora essa hipótese não seja descartada - mas logo em seguida. Na quarta-feira (26), o IBGE informa o resultado do IPCA-15 de abril, a "prévia da inflação" - o cálculo é idêntico, só muda a data de coleta dos preços. A expectativa é de nova redução, para algo em torno de 0,6%, o que levaria o acumulado em 12 meses para cerca de 4,2%, ainda bem acima do centro da meta (3,25%), mas bem abaixo do teto para o ano, de 4,75%.