No ano anterior à comemoração de 50 anos no Brasil, a Stihl teve recorde de faturamento no país: foram R$ 3,2 bilhões em 2022, alta de 12,3% com relação a 2021, para aumento de vendas de 4,5% na mesma base de comparação. Em contraste, diz o presidente da empresa, Cláudio Guenther, o primeiro trimestre fechou com alerta amarelo: queda de 16,7% nas vendas e de 7% no faturamento. Guenther adianta que, para equilibrar estoques e evitar demissões, a indústria com 3,7 mil funcionários fará dois períodos de férias coletivas, com 10 dias neste mês e outros 10 em julho. Mesmo assim, prepara investimentos de R$ 210 milhões para ampliação e modernização, inclusive trazendo a pesquisa e desenvolvimento de motores a combustão da Alemanha para São Leopoldo.
A que se deve o recorde no faturamento?
Tivemos crescimento espetacular nos últimos três anos. Quase duplicamos o valor em relação a 2019, que era de R$ 1,7 bilhões. Um dos motivos foi o fato de termos vendido muitos pulverizadores, que foram usados para sanitização durante a pandemia. Com isso, inclusive, conseguimos manter abertos todos os pontos de venda. Foi tanta procura que ficamos algum tempo com itens em atraso. Temos uma marca forte e trabalhamos muito para seu fortalecimento, inclusive com treinamento no ponto de venda. Também vendemos muitas roçadeiras, pelo pacote que inclui qualidade e disponibilidade do produto, que outros não tinham. Na pandemia, fizemos até frete aéreo para entregar, um custo a mais que não repassamos para o preço ao consumidor porque a Stihl não é oportunista.
Como foi possível manter a produção nesse período tão difícil?
O Grupo Stihl teve atraso na entrega de 3,7 milhões de máquinas. No Brasil, foram 80 mil. Aqui no Estado, contratamos 1,5 mil pessoas na pandemia para poder atender à demanda. Não foi um período fácil, mas a Stihl liberou investimentos. Crises sempre têm desafios, como a atual, quando caem volume e crescimento, e a anterior, quando foi preciso arrumar a estrutura. Ampliamos restaurante, vestiário e estacionamento. Hoje temos 3,7 mil funcionários.
Agora está havendo redução nesse mercado?
No primeiro trimestre, as vendas ficaram 16,7% abaixo do mesmo período do ano passado e o faturamento caiu 7% (na mesma base de comparação). Entre os motivos, estão a incerteza com a troca de governo, o juro alto e o crédito difícil, redução nas vendas na Amazônia (pela ação para conter garimpo ilegal), seca no Estado e queda nas exportações, pela crise mundial. Também paramos de vender para o mercado russo, já que a Stihl tem sede na Alemanha e existe embargo à Rússia.
e o mercado não está bem, a gente não espera, adota um plano de ação. Estamos fazendo o possível para não parar a produção.
O que a empresa faz diante desse quadro?
No Brasil, temos novos produtos, campanhas de venda e oferecemos condições de pagamento facilitadas. Se o mercado não está bem, a gente não espera, adota um plano de ação. Estamos fazendo o possível para não parar a produção. Já temos férias coletivas previstas de 10 dias neste mês e outros 10 em julho na produção de máquinas, para equilibrar o estoque. Sempre somos muito cautelosos na questão de estrutura, para não demitir, inclusive porque se perde capital humano, intelectual.
Mesmo assim, a empresa segue investindo?
Temos R$ 210 milhões aprovados para renovação do parque fabril e para um centro de armazenagem e distribuição. A gente tinha metade da capacidade fora da empresa, vamos trazer para dentro, buscando redução de custos. Também vamos ampliar o centro de pesquisa e desenvolvimento. Estamos trazendo o desenvolvimento de motores a combustão da Alemanha para o Brasil. Lá, vai ficar a parte elétrica, os alimentados a bateria, que já são 30% das vendas globais e devem chegar a 50% em 2027. Um dos focos da pesquisa é adaptar esses motores a combustíveis renováveis, como etanol. Neste ano, vamos neutralizar nossas emissões de carbono, temos metas de ESG (governança corporativa, social e ambiental) muito claras. Na parte social, olhamos muito para dentro e para fora da empresa, na cadeia de fornecedores. Não admitimos trabalho análogo à escravidão ou qualquer tipo de ilegalidade. No ano passado, três dos nossos gerentes foram convidados a assumir diretorias na matriz, na Alemanha. É um reconhecimento da nossa alta qualificação.
A Stihl vai produzir eletrodomésticos no Brasil?
Ainda neste ano, devemos começar a produzir aqui a primeira lavadora de alta pressão. Ganhamos em custos da China, que está ficando mais cara, e também porque a empresa quer ser menos dependente da produção chinesa, por questões geopolíticas. São produtos que terão conteúdo de nacionalização de 80%.