Em parceria com uma cliente do setor calçadista, a ArteCola Química, de Campo Bom, transformou em matéria-prima parte dos resíduos de solados que seriam descartados.
Em quatro meses de 2022, 2,2 toneladas de borracha vulcanizada foram utilizadas na produção de 800 mil pares de calçados. A projeção é de que, neste ano, outras 6,6 toneladas sejam recicladas.
Tornar sua produção mais sustentável era o desejo de uma fabricante terceirizada de marcas globais. Em contato com a fornecedora, surgiu a ideia de focar nas couraças - itens que formam a estrutura do bico de tênis, sapatos e botas.
Na fase inicial, a área de pesquisa & desenvolvimento (P&D) da Artecola constatou que era possível usar os resíduos da própria cliente como parte da matéria-prima dos novos produtos. Até então, o material era comprado de outro fabricante. Assim, passou a avaliar as sobras de borracha vulcanizada dos solados para inserir na nova fórmula.
— Apesar de ser material de origem vegetal, produzido a partir da borracha natural extraída na Amazônia em programas sociais com famílias da floresta, não havia forma viável de reciclar os resíduos depois de vulcanizados para essa aplicação — pontua a doutora em Ciência e Tecnologia dos Materiais Alessandra Lemos, que atua no P&D da Artecola.
Os resíduos reaproveitados correspondem a cerca de 20% da composição das novas couraças. Além de reusadas, são recicláveis e aplicáveis nos mesmos modelos que provocaram sobras de borracha vulcanizada. A empresa ainda lançou um novo composto com fibra vegetal para contrafortes — peças de estruturação que se moldam à parte traseira dos calçados, na altura do calcanhar. Todos os contrafortes produzidos até hoje no mercado brasileiro para modelos esportivos de alta performance têm origem no petróleo.
ESG na Prática
Atividades econômicas sem responsabilidade social e ambiental estão se tornando obsoletas. Práticas ESG (governança corporativa, social e ambiental) não são "moda": fazem parte da mesma transformação que digitaliza negócios e interações pessoais. Inovação não é só tecnologia, mas também diversidade e inclusão. Esta seção mostra o ESG na prática. Sugestões podem ser enviadas para camila.silva@zerohora.com.br e marta.sfredo@zerohora.com.br
* Colaborou Camila Silva
