No Brasil, sobreviver a uma recuperação judicial (RJ) continua sendo uma exceção. Mas depois da Stemac, mais uma empresa gaúcha conta as semanas para deixar o regime especial: a Artecola. E o fará a bordo de expansão do faturamento de 50% até agosto deste ano, na comparação com os primeiros oito meses de 2020. Superou as perdas da pandemia.
– A estatística é negativa. Não conhecia quase nada de recuperação judicial, tive de aprender bastante. Muitas entram e não resolvem na origem. Nesse caso, a RJ funciona como uma anestesia. Ganha ganha prazo para pagar a dívida. Mas se não resolveu o problema, não consegue sair. Conseguimos identificar muito bem, e ainda antes de pedir a recuperação, encaminhamos a solução – disse à coluna Eduardo Kunst, presidente-executivo da Artecola.
A origem, relata, foi um programa de construção de creches do governo federal que nunca avançou, gerando custos sem a receita esperada. A decisão, diz Kunst, foi assumir a dívida e aumentar o prazo.
– O governo simplesmente não pagou. Temos uma dívida para pagar, agora faltam 13 anos, mas não há novos riscos geradores de perdas futuras.
O próximo passo foi melhorar o negócio de origem do grupo, a produção de químicos, especialmente adesivos. No início da pandemia, relata Kunst, foram avaliados os segmentos que seriam mais afetados - automotivo, calçados - e os que poderiam se sair melhor -móveis, embalagens, farmácias, produtos de limpeza. Graças a esse planejamento, a Artecola ganhou participação de mercado no Brasil e no Exterior.
– Tiramos recursos de alguns segmentos, elevamos em outros. Aumentamos a participação nos mercados de maior crescimento. Muita gente diz que não adianta planejar em ambiente instável, mas discordo: quanto maior a incerteza, mais importante é o planejamento, e mais flexível é preciso ser no caminho.
Agora, a Artecola se prepara para sair do regime especial de RJ até no máximo o início de 2022. Neste ano, investiu em sua marca de produtos para o consumidor, a Afix (ao lado). A assinatura foi unificada para toda a América Latina em produtos como supercolas, silicones para vedação, colas para pisos, e fixação de ropadé, além da famosa cola branca escolar.
No mês passado, a Artecola apareceu como segunda empresa mais internacionalizada do Brasil em ranking da Fundação Dom Cabral - o primeiro lugar foi de outra gaúcha, a Fitesa. São nove fábricas em seis países da América Latina, todas incorporadas à empresa com sede em Campo Bom por aquisições ou fusões.
– Os primeiros anos foram de muito investimento e pouco retorno. Agora, começam a dar retorno.
A inserção internacional também foi resultado de planejamento, iniciado em 1997 e acelerado uma década depois. Com tantos planos concretizados, a coluna quis saber como a Artecola vê o futuro:
– O cenário é bastante complexo, especialmente no segmento químico, que depende de derivados de petróleo e de matérias-primas importadas. A logística também preocupa bastante. Estamos nos preparando para tempos turbulentos, mas é o mesmo desafio para todos os concorrentes. Não temos problema de andar nesse cenário. Para os grandes concorrentes, as multinacionais, é mais difícil navegar na América Latina nesses períodos. Nós somos daqui, é um desafio, mas vemos mais oportunidades do que problemas à frente.