Quando falar em inovação no Rio Grande do Sul ainda "era mato" - será que essa expressão é ambientalmente correta? -, o Cesar mostra o caminho. Cesar, neste caso, é o Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife, pioneiro no desenvolvimento independente no Brasil.
Eduardo Peixoto, atual CEO do Cesar, atua há 20 anos no centro que hoje está em quatro capitais brasileiras, além da Flórida (EUA), prepara a abertura do Cesare - o "e" é de Europa: a próxima unidade será Aveiro, em Portugal. E apesar de todas essas conexões, disse à coluna, ao passar pelo South Summit:
– A gente é fraco na construção de redes no Brasil.
Como a frase foi dita em um contexto de narrativa do passado, a coluna quis saber se a conjugação certo do verbo seria no passado, Eduardo negou:
– Ainda é.
A história que Eduardo contava era ótima: para definir o marco legal da internet das coisas no Brasil, a turma do Cesar formou um grupo chamado Poetas.et (pessoal é bom de acrônimos): Políticas, Estratégias, Tecnologias, Aplicações e Serviços para a Internet de Tudo. A "poesia" propriamente dita, contou, ficava por conta da ambição: aquele grupo disputava com gigantes globais o trabalho de base.
— A gente sabia que ia perder, mas ao menos se dispôs ao fazer o melhor trabalho possível. Perdemos, mas o vencedor nos chamou para contribuir — lembra rindo.
Entre os frutos do Cesar está a Tempest, empresa de segurança de dados que foi comprada pela Embraer. Outro, a Neurotech, vendida no final do ano passado à B3. Depois de abrir caminho para outros polos regionais, como o do Rio Grande do Sul, o Cesar está muito focado em educação, especialmente na transformação que terá de enfrentar nos próximos anos. A coluna quis saber como Eduardo via a polêmica que o ChatGPD e outras aplicações de inteligência artificial (IA) abriu - como o manifesto pedindo parada para refletir assinado por Elon Musk, Yuval Noah Harari e Steve Wozniak, entre outros.
— Era mais ou menos o esperado, mas estava no futuro. O futuro chegou e não estamos preparados. Nem tecnologicamente nem eticamente. Vamos ter de acelerar processos, e um dos mais desafiadores é o da educação. O que antes se fazia era aprender a responder certo. Hoje, o ChatGPT faz isso. Nem sempre acerta, ainda, mas vai acertar. Essa fase de acumular conhecimento passou — diagnostica.
A educação de que precisamos, agora, recomenda, é a que vai aos fundamentos:
— Aprender a fazer repetir mais fácil, as máquinas já podem fazer. Na pandemia, tive de aprender como limpar a água da piscina. Foi fácil. Mas o desafio é saber por que a água mudou, como posso modificar esse processo. Não posso melhorar se não sei os fundamentos. É preciso aprender a ser crítico, a fazer perguntas aos outros e a nós mesmos. Temos de reaprender a aprender.
Curiosidade: se a construção de redes ainda é fraca, como diz Eduardo, ao menos, a coluna testemunhou uma oportunidade para reforçá-la. O CEO do Cesar conheceu Thiago Ribeiro, diretor-geral do South Summit Brazil, e ficaram de conversar. Ao menos, para trocar informações sobre eventos de inovação - o Cesar tem o seu em setembro. Afinal, boa inovação é a colaborativa.