Sem acordo com os credores, os sócios de referência da Americanas escolheram o caminho da recuperação judicial, que tende a aumentar os já pesados impactos dos erros contábeis - para ficar no que se sabe com certeza - da companhia.
Os R$ 43 bilhões de dívidas incluído inscreve o pedido entre os maiores já vistos no Brasil, atrás apenas de Odebrecht (R$ 98,5 bilhões), Oi (R$ 65 bilhões) e Samarco (R$ 50 bilhões).
Até onde se sabe, os credores exigiram que o 3G Partners aportasse R$ 15 bilhões, em fez dos R$ 10 bilhões originais, na companhia para negociar. E o trio bilionário achou muito caro. Ainda pela manhã, a ameaça do pedido de RJ era vista como uma última carta na manga para uma saída de menor custo para os acionistas de referência da Americanas. Bastaram poucas horas para fosse concretizada.
Nos processos de recuperação judicial, sobre o valor original dos débitos costuma ser aplicado um forte redutor. Isso significa que serão afetados os credores diretos, como os maiores bancos - inclusive os públicos - , mas também os indiretos, como os fornecedores, em um momento de desaceleração global da atividade econômica.
Também vai afetar investidores, mas não só os que especulam na bolsa. Também os que tentam fazer reservas para o futuro por meio de um mercado que havia desabrochado recentemente no Brasil, o de dívida privada. Pouco antes da formalização do pedido de RJ, as debêntures das Americanas eram negociadas com desconto de 87,5%. Esses papéis compunham, por exemplo, um fundo do Nubank, chamado Reserva Imediata, que tem o maior número de cotistas no Brasil: 1,3 milhão. Como o ativo se desvalorizou, os cotistas tiveram perdas.
Embora esse tenha provocado mais barulho, pelo alcance, muitos fundos apresentados aos clientes de instituições financeiras como "renda fixa" têm crédito privado na carteira. Agora, vários fundos de investimento que tinham a Americanas entre suas apostas estão avisando seus cotistas que o rendimento vai minguar. O caso da Americanas vai provocar revisão nas estratégias, especialmente das que têm mais exposição a menor quantidade de empresas, o que aumenta o risco.