No início da década de 1990, o economista Fabio Giambiagi elaborou, em parceria com Roberto Lavagna, uma proposta de moeda comum do Mercosul. Hoje, está horrorizado com as declarações do atual ministro da Economia da Argentina, Sergio Massa, sobre um eventual "Sur" - já apelidado ironicamente de "Sur-Real" - , que substituiria o real e o peso.
Como a coluna sempre lembra, Giambiagi nasceu no Brasil e se diz "brassileiro", com o sotaque evidenciando pais argentinos e boa parte da infância e adolescência passadas no país vizinho.
— Isso está parecendo o Dia da Marmota (filme em que um dia é repetido várias vezes), é só trocar o nome do personagem e adicionar mais 20 anos — avalia o pesquisador associado no Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV).
A coluna quis saber como ele, que um dia já propôs a moeda comum, hoje é tão refratário à ideia, a ponto de considerá-la “um absurdo”. A resposta foi essa:
— Naquela época, a inflação argentina era nula, hoje está em 95% ao ano. O Brasil não deu mais nenhum calote, a Argentina já deu dois. Hoje um afastamento completo entre os dois países e existe uma desconfiança enorme do establishment brasileiro em relação aos argentinos, com sucessivas quebras das regra do jogo por parte deles. E o país ainda está em uma situação institucional tenebrosa, que corresponderia, no Brasil, ao ex-presidente Bolsonaro querer aprovar o impeachment de Alexandre de Moraes e do ministro (Luis Carlos) Barroso (referência à abertura, por Fernández, de um julgamento político da Corte Suprema de Justiça por "mau desempenho de suas funções").
Além de tudo isso, lembra que a Argentina hoje tem grande variedade no câmbio, com cotações diferentes:
— Falar em moeda comum quando um dos lados tem 15 taxas de câmbio deveria ter como resposta algo com "unifica a tua, depois a gente conversa".
Sobre a suposta "moeda comum", Giambiagi ainda lembra um trecho da biografia de Roberto Campos em que ele conta um diálogo com o delegado britânico na ONU diante do discurso de um líder latino-americano:
— Sempre me impressiona a capacidade de vocês, latinos, transformarem poucas gramas de fatos em toneladas de palavras.
Giambiagi avalia que o ensaio de solução para a falta de dólares na Argentina "não tem nada a ver com moeda":
— É uma triangulação de pagamentos, que precisa ser melhor conhecida para avaliar se para em pé ou é contabilidade criativa para perder dinheiro em troca de liderança politica. Confio que o Banco Central não coloque as reservas em risco.