Era previsível. Depois dos discursos e das primeiras medidas tomadas pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, já no dia da posse, a bolsa tem queda forte (2,9%) e o dólar sobe 1,4% uma hora e meia depois da abertura nesta segunda-feira (2).
As ações da Petrobras desabam 5,6%, especialmente em reação ao anúncio da mudança na política de preços. Embora Lula tenha procurado fazer afagos, especialmente no pronunciamento ao Congresso, o mercado focou nos sustos.
Além das palavras duras sobre "cupidez dos rentistas e de acionistas privados das empresas públicas" e "uma estupidez chamada teto de gastos", o presidente transformou em ação seu discurso contrário à privatização determinando a retirada de Petrobras, Correios e ECB da lista das estatais a serem vendidas no âmbito do Programas de Parcerias em Investimentos (PPI).
A confirmação da prorrogação da isenção de impostos federais sobre combustíveis também pesa, assim como a declaração de Lula de que pretende "resgatar o papel das instituições do Estado, bancos públicos e empresas estatais no desenvolvimento do país", vista como sinal de maior intervenção do governo. As ações do Banco do Brasil caem 3,63%.
Nem o destaque dado à sua intenção de reforçar as parcerias público-privadas dado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ao assumir o cargo, amenizou o mau humor de investidores e especuladores, ao menos até agora. O mau desempenho da bolsa ocorre focado em aspectos internos, inclusive porque nos Estados Unidos e em boa parte da Europa, não há pregão nesta segunda-feira (2).
Embora a privatização da Petrobras fosse tratada por especialistas em desestatização como um ensaio precário, sem definição de modelagem ou expectativa de prazo, no mercado era vista como "oportunidade". Já a combinação das declarações de Lula e do indicado à presidência da estatal, Jean Paul Prates, projeta perdas em relação aos ganhos polpudos proporcionado em dividendos. Só nos primeiros nove meses de 2022, a estatal distribuiu R$ 136 bilhões aos acionistas - quase uma PEC da Transição.
Trechos que levantaram orelhas no setor privado
"Desorganizaram a governança da economia, dos financiamentos públicos, do apoio às empresas, aos empreendedores e ao comércio externo. Dilapidaram as estatais e os bancos públicos; entregaram o patrimônio nacional. Os recursos do país foram rapinados para saciar a cupidez dos rentistas e de acionistas privados das empresas públicas."
"Hoje mesmo estou assinando medidas para reorganizar as estruturas do Poder Executivo, de modo que voltem a permitir o funcionamento do governo de maneira racional, republicana e democrática. Para resgatar o papel das instituições do Estado, bancos públicos e empresas estatais no desenvolvimento do país. Para planejar os investimentos públicos e privados na direção de um crescimento econômico sustentável, ambientalmente e socialmente".
"Vamos dialogar, de forma tripartite – governo, centrais sindicais e empresariais – sobre uma nova legislação trabalhista. Garantir a liberdade de empreender, ao lado da proteção social, é um grande desafio nos tempos de hoje."
Trechos que aliviaram ouvidos aflitos
"O futuro pertencerá a quem investir na indústria do conhecimento, que será objeto de uma estratégia nacional, planejada em diálogo com o setor produtivo, centros de pesquisa e universidades, junto com o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, os bancos públicos, estatais e agências de fomento à pesquisa.
"Nenhum outro país tem as condições do Brasil para se tornar uma grande potência ambiental, a partir da criatividade da bioeconomia e dos empreendimentos da socio-biodiversidade. Vamos iniciar a transição energética e ecológica para uma agropecuária e uma mineração sustentáveis, uma agricultura familiar mais forte, uma indústria mais verde."
"O modelo que propomos, aprovado nas urnas, exige, sim, compromisso com a responsabilidade, a credibilidade e a previsibilidade; e disso não vamos abrir mão. Foi com realismo orçamentário, fiscal e monetário, buscando a estabilidade, controlando a inflação e respeitando contratos que governamos este país."