Ainda sem sinais de acordo para uma capitalização considerada urgente na Americanas - estimada em R$ 15 bilhões - o escândalo das "inconsistências" contábeis tem provocado impacto em um mercado em ampliação no Brasil: o de crédito privado.
Como a coluna já relatou, 1,3 milhão de cotistas de um fundo do Nubank chamado Reserva Imediata - o maior número em um só bloco - tiveram severas perdas. O que faltou dizer: eles acreditavam estar investindo em renda fixa, ou seja, que não estaria sujeita a solavancos.
O mercado de crédito privado já é tão importante que é apontado como antídoto para a antiga BNDESdependência do Brasil. Em vez de recorrer aos financiamentos de longo prazo do banco público de desenvolvimento, que reduziu drasticamente sua disponibilidade de crédito, as empresas passaram a "vender" papéis com promessa de devolver a quantia paga com ganhos no longo prazo. Quem compra ganha remuneração acima da Selic, logo de CDIs e CDBs. O principal instrumento é a debênture - uma promessa de pagamento remunerado no longo prazo em troca de um empréstimo no curto prazo, ou seja, o valor aplicado no título de dívida.
A Americanas havia lançado R$ 2 bilhões em debêntures em junho de 2022, com vencimento em 11 anos e remuneração 2,75% acima do CDI. Era parte do plano de reestruturação que embutia a troca da gestão para o comando de Sérgio Rial, que expôs as "inconsistências".
Com a imagem de bons gestores de seus acionistas de referência - o trio de bilionários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira -, espalhou papéis por todo o mercado. Pouco antes da apresentação do pedido de recuperação judicial da companhia, as debêntures das Americanas eram negociadas com desconto de 87,5%. Ou seja, viraram pó.
Agora, afetados pela desconfiança de investidores e de instituições financeiras, lançamentos de debêntures já foram adiados. E bancos têm de dar explicações e reorganizar a estratégia de suas carteiras para não ampliar as perdas de seus clientes.