Havia sinais de que a reação do mercado poderia ser mais benigna do a esperada, mas o comportamento do dólar e da bolsa nesta segunda-feira (31) surpreendeu os mais otimistas.
A moeda nacional teve uma das maiores valorizações ante a moeda americana, que recuou 2,5% ante o real, fechando em R$ 5,16. A bolsa subiu 1,31% depois de abrir em forte baixa, com grandes diferenças entre ações de estatais, que despencaram, e de segmentos potencialmente beneficiados por políticas do próximo governo.
Como a coluna havia relatado, já havia uma movimentação do "kit Lula", formado por ações de grupos de ensino superior e varejistas. Nesta segunda-feira, somaram-se papéis de empresas de viagens, como a CVC (9,63%), Gol (8,83%) e Azul (8,91%). Entre as varejistas, a maior valorização foi da Lojas Renner, com 6,99%, seguida por Americanas (2,51%) e Magalu (2,05%). Entre os grupos de ensino, Yducs avançou 5,42% e Cogna, 3,46%.
Em compensação, a Petrobras despencou até 8,47% (ações preferenciais) e o Banco do Brasil, 4,64%. A segunda-feira (31) também foi dia de especulação sobre o nome do futuro presidente da estatal no terceiro mandato de Lula. As apostas convergem para o nome do senador Jean Paul Prates (PT-RN), que antes de migrar para a área de energias renováveis teve longa carreira no setor de óleo e gás.
Analistas relatam que grandes fundos de investimento estrangeiros, alguns dos quais não operavam no Brasil desde 2019, por veto ambiental, voltaram a fazer contatos para montar posições no país. Esse seria um dos principais motivos da queda do dólar, ou seja, a expectativa de entrada de divisas.
Compromissos de Lula na economia assumidos na Carta ao Brasil de Amanhã
1. No desenvolvimento econômico, repete a intenção de reunir os 27 governadores para definir a retomada de obras paradas e definir prioridades. O documento afirma que "os bancos públicos, especialmente o BNDES, e empresas indutoras do crescimento e inovação tecnológica, como a Petrobras, terão papel fundamental neste novo ciclo".
2. Menciona uma "Nova Legislação Trabalhista que assegure direitos mínimos – tanto trabalhistas como previdenciários – e salários dignos", elaborada após "amplo debate tripartite (governo, empresários e trabalhadores)". Pretende criar o Empreende Brasil, com crédito a juros baixos para micro, pequenas e médias empresas.
3. Promete salário mínimo forte, com "crescimento todo ano acima da inflação", o Novo Bolsa Família, com R$ 600 permanentes mais R$ 150 para cada criança de até 6 anos, o Desenrola Brasil, de renegociação para inadimplentes, isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, com reforma tributária. E é a mesma promessa feita por Jair Bolsonaro, em 2018, e nunca cumprida.
4. Afirma que buscará "transição energética e ecológica para uma agropecuária e uma mineração sustentáveis, para uma agricultura familiar mais forte, para uma indústria mais verde". Assume "desmatamento zero na Amazônia e emissão zero de gases do efeito estufa na matriz elétrica", sem definir data.
5. Acena com a volta do Minha Casa Minha Vida, sem mencionar meta. Quer um um Novo PAC "para reativar a construção civil e a engenharia pesada" para habitação, transporte e mobilidade urbana, energia, água e saneamento.
6. Para reindustrializar o país, sinaliza com estímulos a indústrias de software, defesa, telecomunicações e outros setores de novas tecnologias. Aponta "vantagens competitivas que devem ser ativadas" nos complexos de saúde, agronegócio e petróleo e gás. Promete "atenção especial" para micro, pequenas e médias empresas e startups.
7. Na política externa, renova a aposta na integração regional, no Mercosul, no diálogo com os Brics, países da África, mas inclui União Europeia e Estados Unidos, que tiveram pouca atenção nos dois primeiros mandatos, para exasperação de diplomatas.