Marta Sfredo

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Por que "tarifas de reciprocidade" de Trump podem causar estrago no Brasil

Há diferença de 9,1 pontos percentuais entre os impostos médios de importação do Brasil e dos Estados Unidos

Marta Sfredo

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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, acaba de formalizar um novo tarifaço – além do específico para aço e alumínio – baseado em reciprocidade. Ou seja, o republicano pretende impor, sobre os produtos que entram nos EUA, taxas equivalentes às que outros parceiros comerciais aplicam sobre as exportações americanas.

Não por acaso, ao anunciar a medida, Trump citou o etanol do Brasil, país que cobra alto para permitir a entrada de produtos americanos (veja gráfico acima). Em 2023, o Brasil voltou a cobrar taxa de 18% sobre o etanol que entra no país produzido lá fora — e os EUA são grandes exportadores de etanol de milho.

Ferramenta do Banco Mundial que reúne dados de comércio até 2022 (veja aqui) mostra que  o Brasil impõe tarifa média de 11,3% a mercadorias que chegam dos EUA. As taxas nacionais variam entre zero e 35% – intervalo definido em conjunto pelos países do Mercosul. A gradação depende da categoria do produto. A regra básica é de que, quanto maior o valor agregado, maior a alíquota.

É mais do que outros parceiros comerciais cobram, em média, das exportações americanas, como África do Sul (8%), China (7,2%), Chile (6%) e Alemanha (4,8%). Mas é menos do que praticam Índia (15,3%), Coreia do Sul (13,8%), Turquia (13,6%) e Argentina (12,3%). A média mundial em 2022 era de 5,5%

Os EUA têm tarifa média de importação de cerca de 3%, mas impõem taxa média de 2,2% sobre itens brasileiros que entram no mercado americano. Ou seja, segundo o Banco Mundial, há  diferença de 9,1 pontos percentuais entre os impostos médios de importação dos dois países, "contra" o Brasil. É isso que dá espaço a aumento de tarifas de importação nos EUA por aplicação de uma eventual política tarifária de reciprocidade.

— Se os EUA adotarem essa medida, teremos diminuição das exportações brasileiras por perda de competitividade para outros mercados que têm acordos comerciais mais favoráveis. O impacto será sentido principalmente nos setores do agronegócio e siderúrgico, que são dependentes do mercado americano — afirma Thiago Oliveira, cofundador e CEO da Saygo, empresa especializada em comércio exterior.

É bom lembrar que é usual que países desenvolvidos tenham impostos de importação menores do que os emergentes. Mesmo assim, como se trata de Trump e sua imprevisibilidade estratégica, tudo pode acontecer. Ou nada.

*Colaborou João Pedro Cecchini

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