Com passagem por tantos países, Ralf Germer só poderia ter se envolvido na criação de uma empresa gaúcha que abriu as portas a pagamentos para o Exterior. Seria útil até um mapa-múndi para refazer os passos entre seu nascimento na Suíça, a mudança com os pais para a Alemanha e, anos depois, para São Paulo, depois um emprego na Espanha que ajudou a criar suas relações com o Rio Grande do Sul.
Ralf trabalhava em uma revenda de softwares em Barcelona quando começou a receber muitos pedidos do Brasil, quase sempre com dificuldades para pagar a compra: os clientes queriam usar boletos e até usar serviços de envio de remessas, como a Wester Union.
— Toda aquela dificuldade me fez pensar que, se não havia uma processadora de pagamentos ao Exterior no Brasil, eu tinha de criar. Estava em São Paulo a negócios e, como sobrou tempo, decidi ir a Porto Alegre, onde tinha um bom cliente que havia criado suas próprias soluções de pagamento — relata o empreendedor.
E foi assim, conta, em uma espécie de "negócio à primeira vista", que Ralf e Alex Hoffman viraram sócios e criaram a PagBrasil, destinada a empresas do Exterior que querem vender a brasileiros. Isso foi há 10 anos, quando não havia sequer regulação para essa atividade no Brasil, uma das primeiras preocupações dos sócios.
— Era um território inexplorado para quantias abaixo de R$ 10 milhões. Desde 2013, existem regras para prevenir lavagem de dinheiro, financiamento a terrorismo e outros desvios. O que fizemos em poucos meses hoje levaria ao menos dois anos, dadas as novas exigências legais — diz Ralf, esclarecendo ser favorável à regulamentação, por representar o interesse do país e estabilidade do sistema financeiro.
Depois de cinco anos operando só com pagamentos a compras no Exterior, a PagBrasil passou a atuar também dentro do país. Criou o "boleto flash", que confirma pagamento em minutos. Hoje, um terço de sua movimentação é internacional e dois terços, nacional, conta Ralf:
— Ainda não expandimos para outros países porque não agrega tanto valor. O Brasil está na vanguarda de negócios online, fez muito bem o Pix. Na Europa existe sistema semelhante, mas os bancos não são obrigados a oferecer e não é gratuito. Aqui, conseguimos competir não só em taxa, mas em funcionalidades. Outro dia ouvi de um cliente que somos 'a Ferrari no mundo dos pagamentos'.
Outra característica que a PagBrasil fez questão de manter foi a independência. Mesmo no auge dos aportes a startups, não foi ao mercado buscar investidores, reforça o empreendedor:
— Era tentador. Até o ano passado, éramos procurados todas as semanas, até hoje somos contatados todos os meses. Se aceitássemos recursos de terceiros, cresceríamos com rapidez. Mas não queríamos vender o negócio em alguns anos e víamos muitas empresas surgindo e sumindo. Apostamos no longo prazo, queremos ser uma empresa com papel importante no mercado de pagamentos do Brasil. Em 10 anos, ainda vamos estar aqui.
Um dos efeitos colaterais dessa decisão, cita Ralf, foi não precisar demitir, nem no início da pandemia nem quando o fluxo para as startups se reduziu no Brasil. A PagBrasil tem 70 pessoas na equipe, a maioria em Porto Alegre. Além de sua posição em Barcelona, há um escritório em Cingapura. No próximo ano, há intenção de abrir outro em São Paulo.
— Enquanto as fintechs demitiam, estávamos contratando. Temos uma estratégia clara de conectar sistema financeiros e integrar sistemas de comércio online. Acabamos de fazer parceira com SalesForce no Brasil para atender a grandes empresas. A primeira é uma indústria de cana-de-açúcar.
E vem aí um novo negócio: a PagStream, plataforma de gestão de assinaturas. Conforme Ralf, o Brasil é o segundo maior mercado do mundo desse tipo de serviço, mas ninguém focava na simplificação de seu funcionamento. Um programa na nuvem dispensa os clientes de usar programadores para aderir. Os vinhos estão no foco essa nova empreitada, claro, com a força das vinícolas gaúchas, mas também muitos pequenos negócios
— Isso permite a empresa não digitais um processo de transição mais suave para desenvolver esse novo mercado. Não queremos ser só lubrificante (facilitar negócios), queremos ser combustível (criar oportunidades). Isso reduz os cancelamento e a necessidade de suporte e melhora a experiência do assinante. Um novo mercado que estamos criando é com restaurantes, que podem vender vouchers para dias de menos movimento com desconto ou outra vantagem e melhoram sua rentabilidade.