Até agora, a dúvida que precedia as reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) era se a porta ficaria aberta ou fechada para novas elevações do juro básico, porque a alta era dada como certa. Agora, embora as apostas se concentrem na manutenção da taxa Selic em 13,75% ao ano, uma elevação para 14% não seria surpreendente, até porque foi sinalizada.
Na reunião anterior, o Copom avisou que, nesta, avaliaria "a necessidade de um ajuste residual, e menor magnitude" e argumentou que "diante de suas projeções e do risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos, é apropriado que o ciclo de aperto monetário continue avançando significativamente em território ainda mais contracionista".
A inflação dos últimos 12 meses saiu dos dois dígitos e, na segunda-feira (19), o Boletim Focus do BC trouxe a 12 redução consecutiva da projeção do IPCA de 2022, de 6,4% para 6%. Ainda seria bem acima do teto da meta, de 5%, e incorpora um desafio, porque o acumulado em 12 meses até agosto ainda é de 8,73%, ou seja, é preciso baixar quase três pontos percentuais para chegar à projeção mais frequente.
Os dados sobre a atividade setorial ainda dão mensagens contraditórias: em julho, os serviços cresceram 1,1%, a indústria avançou 0,6% e o comércio recuou 0,8%. O último dado deu a senha para aposta de que o juro alto já está "fazendo seu serviço", ou seja, desacelerando a economia, então o Copom poderia manter a Selic na reunião que começa nesta terça-feira (20) e termina na quarta (21).
Outro argumento a favor da manutenção é o de que o BC está "enxugando gelo" ao elevar juro para "esfriar" a economia e, assim, baixar a inflação, enquanto o enquanto o Planalto distribui bondades como liberação de FGTS, antecipação de 13º salário para aposentados, aumento do Auxílio Brasil e novos benefícios, como o para caminhoneiros. Nessa lógica, o BC fecharia a torneira monetária enquanto o governo Bolsonaro abre a fiscal. E como a lógica do gasto é eleitoral, também há dúvida se o BC tomaria uma medida muito impopular a 12 dias do pleito, ainda que seja autônomo que seja.
Veja os argumentos
Alta para 14% ao ano
O principal argumento de Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, é de que "ainda é preciso terminar o trabalho no combate da inflação". Pondera que a deflação do IPCA nos dois últimos meses é muito condicionada ao corte no ICMS da gasolina e que sete dos nove grupos pesquisados pelo IBGE seguem em alta.
Manutenção em 13,75%
Para Felipe Sichel, sócio e economista-chefe do Banco Modal, o BC poderia elevar o juro, mas não vai. Explica que o cenário "indica grandes desafios para a convergência da inflação em direção à meta", mas o Copom deve optar por uma pausa agora para "avaliar a evolução dos agregados macroeconômicos".